4 - Um Pouco de Historiografia

Name:
Location: Cranbrook, Colômbia Britânica, Canada

Helder Fernando de Pinto Correia Ponte, também conhecido por Xinguila nos seus anos de juventude em Luanda, Angola, nasceu em Maquela do Zombo, Uíge, Angola, em 1950. Viveu a sua meninice na Roça Novo Fratel (Serra da Canda) e na Vila da Damba (Uíge), e a sua juventude em Luanda e Cabinda. Frequentou os liceus Paulo Dias de Novais e Salvador Correia, e o Curso Superior de Economia da Universidade de Luanda. Cumpriu serviço militar como oficial miliciano do Serviço de Intendência (logística) do Exército Português em Luanda e Cabinda. Deixou Angola em Novembro de 1975 e emigrou para o Canadá em 1977, onde vive com a sua esposa Estela (Princesa do Huambo) e filho Marco Alexandre. Foi gestor de um grupo de empresas de propriedade dos Índios Kootenay, na Colômbia Britânica, no sopé oeste das Montanhas Rochosas Canadianas. Gosta da leitura e do estudo, e adora escrever sobre a História de Angola, de África e do Atlântico Sul, com ênfase na Escravatura, sobre os quais tem uma biblioteca pessoal extensa.

Monday, May 21, 2007

4.20 O Fim da História

 

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Helder



O Fim da História 

Hegel, Marx & Nietzche

4.5 História Comparada



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A História Comparada


1. O Que é a História Comparada

Quando nos debruçamos sobre o estudo da história de uma determinada sociedade ou instituição, quase que inconscientemente, relacionamos o que aprendemos sobre a história dessa sociedade ou instituição com a história de outras sociedades e instituições, e naturalmente temos a tendência de realçar certas semelhanças ou diferenças entre as duas, e até de compararmos a evolução de cada uma com a outra numa forma mais sistemática. Deste enfoque comparativo, somos levados a identificar com frequência quais foram os agentes ou variáveis que, communs aos dois objectos ou presentes num e ausente no outro, resultaram em consequências semelhantes ou marcadamente diferentes.

Podemos assim dizer que a história comparada é o estudo comparado da história de duas ou mais unidades sociais ou políticas, ou instituições sociais tais como povos, cidades, cidades-estados, bairros, regiões, colónias, nações, estados, sociedades, civilizações, religiões, instituições, personagens históricas, ou conflitos ao mesmo tempo em lugares diferentes, ou em tempos diferentes.

O estudo de história comparada não se debruça só sobre comparações culturais, sociais ou políticas, mas também sobre métodos interdisciplinares de pesquisa histórica, pois podemos estudar as diferenças nos resultados quando usamos métodos de estudo diferentes.



2. Um Exemplo

Para melhor ilustrarmos o conceito de história comparada, vamos estudar como exemplo os padrões de penetração europeia em África, na América do Norte, na América do Sul, e na Ásia, dos fins do Século XVI ao princípio do Século XX. Estudando cada um em particular e depois comparar o que aprendemos, constatamos não só o que ocorreu em cada um dos continentes, mas também aprendemos quais foram os factores comuns e quais as diferenças principais, entre cada um e os restantes.

Sabemos empiricamente que a geografia foi decerto um factor comum que resultou em práticas de ocupação e penetração diferentes para cada caso; sabemos que o modo de produção (ou estado de technologia/ sistema económico) dos povos indígenas condicionou também os resultados; e sabemos ainda que o papel que cada região nas relações económicas internacionais condicionou também não só a evolução histórica de cada região, mas também a forma como as relações económicas ou políticas dentro do conjunto dos continentes (ou da economia global) se haviam de desenrolar.

Ainda em termos de geografia, a planície extensa do Mississipi facilitou a expansão francesa no interior da América do Norte começando na Luisiana e prosseguindo em direcção Norte até aos Grandes Lagos (em que o métis (mestiço) foi a ponta-de-lança da penetração); Na América do Sul, o vale do Rio S. Francisco no Brasil (o sertão, como fronteira da expansão para o interior), e do Rio Paraná nas Pampas da Argentina, e no Chaco do Paraguai e da Bolívia facilitaram a penetração portuguesa e espanhola, respectivamente, para o interior do continente sul-americano; já em África, talvez com a excepção da bacia do Zambeze na costa oriental, a geografia africana não facilitou a penetração europeia, podendo dizer-se que até pelo contrário actuou como que uma barreira à penetração europeia do hinterland africano (o Mato). Na Ásia, mais própriamente na Índia e na China, a geografia não foi um factor tão relevante, já que foi ofuscado por modos de produção e tecnologias mais avançadas em que a vantagem comparativa europeia era mínima ou negativa em relação aos povos nativos, e pelo factor população, em que os europeus eram sempre uma minoria muito pequena em relação à população local ou regional muito vezes maior.


3. Identificação de Semelhanças e Diferenças

Os estudos de história comparada procuram não só realçar acontecimentos semelhantes que se repetem em duas ou mais sociedades, regiões ou instituições, como também nos iluminam o porque é que da mesma semelhança resultam duas ou mais experiências tão diferentes umas das outras. É ainda através da história comparada de duas ou mais unidades históricas (sociedades, povos, nações, estados, biografias, etc.) que podemos identificar certas forças ou elementos semelhantes em contextos históricos diferentes.

De facto, é só atraves de uma perspectiva comparada que podemos aprender os elementos estruturais e culturais de uma certa realidade histórica, podendo assim realçar o papel de certas variáveis no resultado final. Com efeito, podemos dizer que para nos conhecermos a nós próprios, (isto é: para estudar a história de um país), por exemplo, ajuda muito conhecer a história de outros países, principalmente daqueles em como o o país a ser estudado se relacionava com os outros países.


4. Comparações Mais Específicas

Se prosseguirmos a nossa análise em mais detalhe, somos levados a concluir que para o europeu o clima insalubre de África, complementado pelo paludismo, a febre amarela, e outras endemias resultaram em sistemas de colonização diferentes; mais ainda, somos levados a concluir que no caso da África Central, a doença do sono levou a que se intensificasse a colonização europeia das Américas, em detrimento da colonização europeia da África Central, pois esta não permitiu o uso do cavalo em operações militares no interior, e não permitiu o desenvolvimento da pecuária (como base económica propícia à fixação de população europeia), resultando numa ocupação mais efémera e mais dependente de importação de alimentos do exterior.


5. Estudo Comparativo de Uma Instituição

Se quiserermos focar o nosso objecto de estudo mais específicamente na mão-de-obra, por exemplo, constatamos que a África fornecia escravos, as Américas recebíam-nos e usavam-nos na produção de produtos tropicais e metais preciosos, e a Índia e a China tinham excesso de população, não necessitando assim de mão-de-obra importada. Daqui podemos concluir que a instituição da escravatura e o sistema económico do tráfico de escravos do Atlântico assumiu aspectos muito diferentes em cada um dos continentes.

É assim evidente que havia uma forte dependência no trabalho escravo em cada um dos continentes, mas se nos debruçarmos no estudo mais detalhado da mesma instituição, depressa concluímos que ser escravo em Angola era muito diferente de ser escravo no Brasil, no Perú, ou nas Antilhas; que por sua vez era muito diferente da experiência de ser escravo nas Colónias Americanas.

Um estudo de história comparada pelo qual tenho um certo fascínio é o estudo da acção dos Jesuítas no Mundo, pois que em cada continente os padres da Sociedade de Jesus desenvolveu sempre um papel muito relevante para o dominação europeia do mundo, mas de facto a sua prática no terreno foi muito diferente em cada continente. Assim, os Jesuítas defendiam a não escravização do Índio nas Américas, ao passo que em África fomentavam o tráfico de escravos africanos. Por outro lado, a sua acção na América do Norte foi essencial à expansão francesa no Mississipi e no Canadá, ao passo que a sua acção na Etiópia, na Índia, na China e no Japão foi mais focada nos campos da evangelização, do ensino, e da ciência.


6. Factores Únicos

Os estudos de história comparada podem cingir-se a elementos únicos de uma sociedade, região, ou país, assim comparando o impacto da existência de um factor único numa sociedade, região ou país, com outra sociedade, região ou país em que esse mesmo factor não existiu. Através comparação superficial entre os padrões de colonização portuguesa em Angola e no Brasil, podemos dizer que o mosquito anofeles (insecto vector na transmissão da malária), foi um factor comum e determinante no curso que a ocupação e colonização portuguesa no Brasil e Angola, mas de facto foi a mosca tsé-tsé (vector de transmissão da doença do sono), existente unicamente em Angola, que mais determinou os caminhos diferentes da colonização portuguesa em cada lado do Atlântico Sul.


Assim, e ainda com base nesta análise, podemos também concluir que, em certa medida, a doença-do-sono impediu a colonização portuguesa de Angola e facilitou a colonização portuguesa do Brasil, durante o período que foi dos princípios do Século XVI aos finais do Século XIX.


7. Visão Global

De volta à nossa comparação global, podemos dizer que em termos do papel desempenhado por cada região no sistema económico mundial, sabemos que a África forneceu escravos, que por sua vez foram usados nas Américas nas economias de plantação de produtos tropicais (açúcar, tabaco, algodão, café, e madeiras) e na produção de metais preciosos (ouro, prata e diamantes); por seu lado, as Américas receberam escravos e com eles e com a quantidade abundante e fértil de terra produziram matérias primas que eram exportadas para a Europa; e sabemos ainda que a Ásia forneceu certas mercadorias ou produtos acabados, cujos custos de produção e frete eram mais baixos dos que as mesmas mercadorias produzidas na Europa, para serem vendidos nos mercados africanos e na América do Sul.

Em termos de organização social e política, o desbravar do imenso interior do Mississipi foi feito pelos Coureur-de-Bois; no Canadá pelos Voyageurs (Métis) em busca de peles de castor; no Brasil pelos Bandeirantes em busca de Índios, ouro e diamantes; em Angola pelos Pumbeiros e Funantes em busca de escravos; e em Moçambique pelo regime de terras dos Prazos (por alguns considerados como uma forma de organização económica feudal). A penetração europeia nos hinterlands indiano ou chinês não chegou sequer a acontecer, porque foi sempre pronta e sistemáticamente barrada pelos potentados na orla costeira que controlavam o comércio com o interior.

Assim, em regiões diferentes a penetração europeia usou métodos diferentes, resultando em consequências muito diferentes para cada uma das regiões estudadas.


8. Comparação de Sistemas Económicos ao Longo da História da Humanidade

O campo da história comparada que talvez tenha suscitado o maior interesse e discussão dos estudiosos de história económica, é, sem dúvida, a comparação de sistemas económicos ao longo da história da humanidade.

Esta comparação é em geral macro-histórica e secular (ao longo de muito tempo), mas pode também incidir sobre duas ou mais sociedades com modos de produção diferentes (sistemas económicos) que co-existam ao mesmo tempo.

Não obstante ser a "coluna vertebral" do pensamento de Marx, o que pode não ser aceite por alguns leitores desta Viagem, vamos assumir, como exemplo, que o motor do progresso e do desenvolvimento humano resta principalmente no trabalho do homem.

O produto do trabalho gera uma determinade quantidade de bens e serviços (uma riqueza), que é mais do que o trabalhador precisa para a sua subsistência própria e da sua família, gerando-se assim um excedente económico. Este excedente (ou mais valia) é dividido entre a sociedade (através do pagamento de impostos) em geral como contribuição para as necessecidades da sociedade, e a classe de proprietários dos instrumentos de trabalho e meios de produção. A classe de proprietários "gasta" em despesas próprias uma parte do excedente, e o resto que não gasta é poupado em forma de acumulação de riqueza, que é reinvestido em mais meios de capital (investimento em ferramentas, máquinas, prédios, software, etc.), que por sua vez hão de acelerar a geração de mais riqueza.

Se adptarmos esta interpretação do progresso da humanidade ao nosso exemplo de estudo de história comparada, podemos ver que nas sociedades mais "primitivas" a mulher foi a primeira a sofrer a exploração pelo homem, na medida em que em geral era ela que trabalhava o campo, cuidava dos filhos e preparava a comida para a família. O homem, dedicava-se à caça e à pesca, à guerra (para apreender mais mulheres), ou à religião como mecanismo de control da sociedade.

Com as incursões guerreiras a tribos e grupos vizinhos, o homem começou a utilizar os prisioneiros de guerra como escravos em trabalhos designados a enriquecer mais os membros das classes dirigentes (e a sua família), ou aumentar o seu controle sobre a sociedade em questão. Assim, do trabalho do escravo, os donos aproveitavam o excedente económico, por ele produzido, que era por sua vez reinvestido em material e equipamento de guerra e em mecanismos de control social, como 0 direito, como conjunto de leis de protecção à propriedade privada, e a religião, como base teológica que controlavam o conjunto de normas morais.

Mais tarde, já no modo de produção feudal, com o desenrolar da actividade humana, os escravos tornaram-se mais caros pela sua raridade, pois tinham que ser conquistados (ou apanhados) a distâncias cada vez maiores, e tornou-se mais barato retirar-se o excedente do trabalho gerado pelos dos trabalhadores da terra (servos da gleba) e camponeses independentes. O excedente obtido era por sua vez reinvestido na compra ou conquista de mais terra e no investimento em grandiosos edifícios de defesa (castelos) e lugares de culto (igrejas), que existiam para manter o controle da classe em comando.

Com o aparecimento de cidades, que evoluiram dos antigos feudos de propriedade da nobreza, o excedente maior e mais valioso passou a ser produzido pelos aprendizes e artesãos que nas oficinas medievais produziam uma variedade maior de bens e serviços, para os quais eram pagos pelo seu trabalho; mas o excedente era acumulado pelas famílias mais ricas da cidade (a burguesia), e por sua vez reinvestido em mais ferramentas e maquinaria, que resultou no processo de manufactura de bens que produzidos em maior quantidade (em série) eram vendidos na cidade e exportados para outras cidades ou países vizinhos, com grande lucro para os mercadores mais ricos da cidade.

A luta pelo control social e militar dos membros da cidade e dos campos que produziam a riqueza, entre a nobreza e os mercadores da cidade (burguesia) durou séculos, resultando na vitória final da burguesia das cidades medievais e na derrota da nobreza e grande enfraquecimento da Igreja (através do desafio da Reforma ao monopólio da Igreja Católica de Roma.

Com estes lucros, a burguesia investiu o excedente em meios militares e de produção, que levaram ao control de estados maiores e de marinhas mercantes e de guerra que asseguravam o fornecimento de escravos de África e de matérias primas (produtos tropicais e metais preciosos) do Novo Mundo recentemente descoberto, o que multiplicou os lucros para a burguesia, que agora eram mais na forma de dinheiro (capital líquido) que passou a ser usado no investimento de novas empresas nacionais e coloniais que atraíam lucros ainda maiores.

Com o desenvolvimento do comércio internacional, o mundo passou a ser o mercado de factores (fornecedor de terras, matérias primas e trabalhadores), ao mesmo tempo que passou a ser o mercado consumidor da produção agrícola e industrial, e os estados nacionais passaram a ser o baluarte da propriedade privada dos meios de produção (ferramentas, trabalhadores e lucro comercial), que eram controlados pelas classes dirigentes. Desta feita, o poder tradicional dos reis foi substituído pelo estado democrático na forma de repúblicas em que a protecção da propriedade privada era a principal função do direito e do estado.

Dos lucros obtidos através do comércio internacional, a classe detentora do excedente e da acumulação embarcaram na produção industrial, na o qual os trabalhadores eram pagos um salário muito baixo, suficiente apenas para manter o fundo de trabalhadores aos níveis necessários a sua reprodução e manutenção do status quo.

Assim, assistimos ao grande desenvolvimento da actividade económica que resultou na Revolução Industrial na Europa, que requeria exércitos muito grandes de trabalhadores nacionais que essas sociedades não geravam em quantidade suficiente. Teve-se assim de recorrer ao trabalho dos povos nativos das colónias, que passaram não só a ser explorados pelos colonialistas propriamente ditos, mas também pelos povos das metrópoles, que gradualmente se libertavam da exploração desenfreada dos capitães da indústria da Revolução Industrial.

Os impérios coloniais passaram então a ser o veículo usado pelos detentores do capital acumulado (agora à escala mundial) para gerar uma riqueza global ainda maior. Assim, podemos dizer que primeiro através da escravatura e do tráfico de escravos do Atlântico, e depois através dos camponeses e proletários (trabalhadores das fábricas) das colónias, a riqueza continuou a concentar-se nas mãos das classes dirigentes da Europa e da América do Norte, cada vez mais pequenas em números mas cada vez mais ricas, de facto controlando a economia de todo o mundo.

À medida que a produção industrial foi sendo substituída pela produção mental (indústria do conhecimento), aqueles membros das sociedades que controlavam a tecnologia (cada vez mais avançada e complicada), passaram a controlar a economia global, que passou de uma economia de produção de bens para uma economia de serviços (de conhecimento, como é o exemplo de software).

Numa perspectiva muito geral, esta descrição não é mais do que uma comparação dos sistemas económicos a cada estágio do desenvolvimento humano, em que da constante da apropriação do excedente e reinvestimento da acumulação resultaram variações em como a exploração do trabalho foi levada a cabo pelas classes dirigentes.

Para melhor compreensão deste tópico fascinante, sugiro a leitura da obra clássica "História da Riqueza do Homem" da autoria de Leo Huberman, 21ª edição, revista, publicada pela Editora LTC (Livros Técnicos e Científicos Editora S.A), no Rio de Janeiro, em 1986.


9. Raízes e Causas Principais

O estudo histórico comparado de duas ou mais unidades históricas ajuda-nos também em explicar as causas principais de certos processos ou acontecimentos históricos, e também a melhor evitar paroquialismos e mesmo até evitar excessiva especialização.

A comparação da experiência histórica de duas ou mais unidades históricas ajuda-nos também a identificar características que são peculiares ou únicas a certas sociedades. Por outro lado, nada melhor do que estudarmos a história de outras sociedades e instituições, para indagarmos melhor o nosso passado ou mesmo o nosso presente.

Numa cobertura mais transnacional ou global (mais macro-histórica), a história comparada ajuda-nos a identificar processos que afectam regiões mais globais ou grupos maiores de países, como tão bem nos ilustram os trabalhos de Emanuel Wallerstein sobre o Moderno Sistema Económico Mundial.


10. Funções da História Comparada

De tudo o que discutimos neste capítulo podemos concluir que a História Comparada nos ajuda a: a) revelar alternativas que de outra maneira não eram tão óbvias ao estudioso de história; b) procurar diferenças ou semelhanças em história, atribuindo maior ou menor peso ou isolando variáveis que são a razão de certas condições particulares; e c) a reconhecer padrões comuns e a fazer generalizações.


11. Limitações e Riscos da História Comparada

O estudo de história comparada não se realiza sem alguns riscos e dificuldades. De facto, o uso incauto ou o abuso da história comparada pode levar estudiosos de história de países diferentes aos seus a enfrentar limitações criadas por eles próprios. Como exemplo a ilustrar essas dificuldades,podemos usar o estudo da história de Angola por historiadores portugueses, e o estudo da história de Portugal por historiadores angolanos para ilustrar esta dificuldade.

Os estereotipos que cada historiador tem acerca do outro país acabam por dificultar sua a imparcialidade e objectividade do estudo, levando o estudioso incauto a não perceber em como o nacionalismo ou o etnocentrismo influenciam a sua óptica, pois só com certa dificuldade o estudioso de história se pode despir dos mesmos; assim, o lugar e tratamento de Angola na história de Portugal, e os de Portugal na história de Angola são influenciados sobremaneira pelos estereotipos que os historiadores de cada país têm acerca do outro.

Outro risco do abuso da história comparada é exagerarmos semelhanças ou diferenças, o que nos leva a conclusões erradas. Como exemplo, podemos indicar o caso da sociologia histórica de Gilberto Freire e as raízes históricas do luso-tropicalismo, que concluiu que a presença do português no Brasil foi em muitos aspectos semelhante à sua presença em Angola ou em Moçambique, o que hoje sabemos bem não ter sido o caso.

Friday, December 15, 2006

4.12 História, Economia e História Económica

 

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O que é economia? Macro, Micro e econometria
O que é a ciência económica?
O que é economia política?
Definir papel da economia política na história
Definir história económica
Resenha da história económica mundial
Resenha da história económica de África
Resenha da história económica de Angola

Sunday, November 19, 2006

4.19 Dependência e Globalização

 

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Centro e Periferia


História da globalização

O que entendemos por globalização? Globalização é um processo histórico mundial pelo qual sociedades e grupos distantes no mundo se tornam interdependentes uns dos outros em crescente rapidez.

Embora um fenómeno social, económico e político recente e com maior intensidade, a globalização começou de facto há muitos séculos atrás. A globalização é um processo histórico que se foi realizando através dos tempos, com base na interação e interdependência da concentração do domínio económico (capitalismo), político (impérios e colónias), religioso (vocação universal da cristandade) e tecnológico (supremacia do conhecimento ocidental) à escala mundial.

Certos acontecimentos ou movimentos na história da humanidade tornaram-se marcos importantes destas quatro facetas. Assim, a conversão do Imperador Constantino de Roma ao cristianismo no ano 313 foi o momento original que lançou o cristianismo numa religião de vocação global. A expansão europeia iniciada pelos Portugueses com a conquista de Ceuta em 1415 é por muitos considerada como o momento inicial do imperialismo mundial que havia de culminar com o domínio do mundo pela sociedade industrial ocidental. A Revolução Industrial Inglesa que começou ainda no fim do Século XVIII é por muitos considerada como o momento em que levou a tecnologia ocidental (europeia e americana) ao domínio completo da ciência e da técnica à escala mundial nos últimos duzentos anos.

Homogenia e Hegemonia

Uma das consequências da globalização foi que um número crescente de sociedades e países adoptaram os mesmos padrões de desenvolvimento, cultura popular e vida social, de forma que se tornaram essencialmente (quase) iguais, abraçando a cultura ocidental, tornando-se assim em muitos aspectos, indiferienciados e homogéneos. Por outro lado, este processo de homogeneização, só foi possível e conduziu invariavelmente à crescente hegemonia económica, política, tecnológica e religiosa dos países ditos ocidentais (Europa, Américas e Austrália) sobre o resto do mundo.

De facto, no mundo de hoje, o vestuário, a cultura popular, a moda, a música e a arte, e até a língua (inglesa especialmente com a expansão da televisão e da internet) predominam em todo o mundo. As economias nacionais estão de tal modos interdependentes que uma queda brusca numa bolsa de valores em Hong Kong causa um estremecer na economia mundial, que resulta em despedimentos em massa no Brasil ou na Argentina, por exemplo.

Teoria da Dependência

Paul Baran e o desenvolvimento do Subdesenvolvimento

André Gunder Frank e Samir Amin

Walter Rodney e Immanuel Wallerstein

Globalização da Economia


O Fundo Monetário Internacional


O Banco Mundial


A Organização Mundial de Comércio

Tuesday, August 08, 2006

4.18 História e Subdesenvolvimento

 

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Em termos de economia (como ciência social), Desenvolvimento e Subdesenvolvimento são dois conceitos relativos entre si, na medida em que a medida de um é feita em termos do outro. Assim para medirmos o subdesenvolvimento dos países pobres fazêmo-lo comparando-os com padrões e estruturas vigentes nos países ricos, ou vice-versa.

O que é o subdesenvolvimento económico?

O subdesenvolvimento económico é normalmente definido como o conjunto de condições e estruturas económicas e sociais de um país em que o nível de vida é muito baixo e em que a maioria da população vive em pobreza extrema, com rendimento per capita muito baixo, taxas de crescimento económico muito baixas ou mesmo negativas, taxas de poupança e investimento muito baixas, economia muito vulnerável e dependente de duas ou três matérias primas de exportação, baixos níveis de consumo interno, sub-emprego crónico, e cujas economias apresentam uma estrutura dualista (dois sectores - tradicional e exportação - desarticulados um do outro), com um sector económico (normalmente pequeno) virado para o exterior e dependente dele em termos de financiamento, mercado e preços, e uma economia interna tradicional de substistência não monetarizada para a maior parte da população.

Devido à falta de recursos e estruturas adequadas, os países subdesenvolvidos normalmente têm serviços de saúde muito precários, baixos níveis de educação em que o analfabetismo prevalece e o ensino professional e superior rareia, e altas taxas de fecundidade e de mortalidade (especialmente infantil e da terceira idade).

O círculo vicioso da pobreza dos países subdesenvolvidos refere-se à situação da poupança e o investimento gerado internamente são quase nulos (ou mesmo negativos), e sem investimento não há geração de riqueza, o que mantém os países numa situação de pobreza crónica. O subdesenvolvimento é uma condição global abrangendo não só aspectos económicos, como também os sociais, políticos, culturais e ambientais de um país.

É importante notar que para ser considerado subdesenvolvido um país não tem que ser necessáriamente pobre em recursos naturais (se bem que a maioria o seja), como é o caso especial de Angola, que é rica em petroleo, diamantes, ferro, cobre, e tem um clima propício à agricultura de produtos tropicais como o café, algodão, tabaco, óleo de palma, cacau, milho, sisal, e à pecuária, bem como uma pesca muito fértil.

Assim, as raízes do subdesenvolvimento não são naturais, mas emanam das relações de dependência dos países subdesenvolvidos em relação aos sistemas económico, político e social mundial. Podemos assim dizer que a pobreza é uma criação do homem e não da natureza. A maioria dos países subdesenvolvidos estão situados em África, na Ásia e na América Latina, abrangendo a maioria da população do planeta.

Por outro lado, desenvolvimento é normalmente definido como o processo de melhoramento contínuo ao longo de muitos anos da qualidade de vida dos habitantes de um país, normalmente reflectido através de melhores níveis de vida, aumento dos níveis de rendimento e consumo, melhor cobertura de saúde, educação, habitação e outros serviços públicos.

O desenvolvimento económico consiste num melhoramento sustentável a longo prazo nos níveis e qualidade de vida, o que implica um aumento consistente a longo prazo no rendimento per capita e compreende um melhoramento das infraestruturas físicas e institucionais de um país.

Convém aqui distinguir entre desenvolvimento económico e crescimento económico: crescimento económico refere-se a um aumento no rendimento nacional (ou produto interno bruto) per capita, ao paso que desenvolvimento, para além de um aumento nas taxas de crescimento do produto interno e rendimento nacionais, se refere a melhoramentos estruturais contínuos na economia e sociedade de um país. No processo de desenvolvimento, as mudanças estruturais económicas mais típicas são o crescente volume de produção industrial, normalmente a custo de uma redução na produção agrícola, e o número crescente de população que vive nas cidades, normalmente a custo da população camponesa.

Diz-se ainda que um país está em vias de desenvolvimento, quando o país, inicialmente subdesenvolvido, experimenta uma melhoria geral global nas estruturas e instituições económicas, sociais e políticas de forma consistente ao longo de um período de algumas décadas, reflectida por taxas de crescimento elevadas nos principais indicadores económicos e sociais.

O termo "Terceiro Mundo" reflecte uma situação histórica ultrapassada dos tempos da Guerra Fria, na medida em que caracteriza os países que não pertenciam ao bloco do chamado "Mundo Livre" em geral referindo-se aos países democráticos da Europa Ocidental, da América do Norte e a Austrália , ou países industrializados de economia de mercado (constituindo estes o "Primeiro Mundo"), nem pertenciam aos países da chamada "Cortina de Ferro" desmonorada em 1991 com a queda do Muro de Berlim, o desmembramento da União Soviética, e a democratização das países da Europa Oriental, em geral referindo-se aos países socialistas da Europa do Leste, da Ásia e Cuba, ou países socialistas de economia planificada (constituindo estes o "Segundo Mundo").

Desde há muito que estudiosos de história e economia se têm debatido com a seguinte pergunta, sem contudo chegarem a uma resposta completa e convincente: Porque é que, se deixados a si próprios, o desenvolvimento económico e social de povos diferentes ocorre a cadências diferentes?

Durante muito tempo, os economistas acreditavam que o subdesenvolvimento económico era uma condição temporária e passageira que eventualmente todos os países acabariam por suplantar, uns mais rapidamente que outros. Contudo, a evidência histórica provou o contrário, pois o que se verificou ao longo dos dois últimos séculos foi que os países desenvolvidos ficaram cada vez mais ricos e os subdesenvolvidos (com raras excepções) cada vez mais pobres.

Alguns estudiosos sugeriram ainda que a capacidade de um país de se tornar desenvolvido dependia em grande parte da sua vontade nacional e dos seus esforços de aumentar a capacidade produtiva interna através estratégias e programas (através de um esforço de planificação económica) de desenvolvimento económico, e da ajuda económica do exterior, o que a história também veio a provar o contrário.

Para a maioria dos economistas de hoje, o subdesenvolvimento não é mais um estágio histórico (inicial ou jovem) de desenvolvimento ou uma questão de vontade e planeamento nacional, mas o resultado da influência e controle dos países economicamente avançados (centro) sobre os países subdesenvolvidos periferia. Assim, o subdesenvolvimento da maioria dos povos do globo é uma parte integrante do sistema económico mundial, e não um sub-produto indesejado.

A obra "A Geografia da Fome", do médico/geógrafo brasileiro Josué de Castro, publicada em 1946, abriu o desafio à explicação tradicional do subdesenvolvimento económico e social e constituiu o despertar da consciencialização por parte das élites intelectuais dos países do Terceiro Mundo da exploração exercida pelos países desenvolvidos. Como Josué de Castro afirmou, "o subdesenvovimento não é, como muitos pensam equivocadamente, insuficiência ou ausência de desenvolvimento. O subdesenvolvimento é um produto e subproduto do desenvolvimento, uma derivação inevitável da exploração económica colonial ou neocolonial, que continua se exercendo sobre as diversas regiões do planeta... ...Assim, os países do Terceiro Mundo são subdesenvolvidos, não por razões naturais - pela força das coisas - mas por razões históricas - pela força das circunstâncias. Circunstâncias históricas desfavoráveis, principalmente o colonialismo político e económico que manteve estas regiões à margem do processo da economia mundial em rápida evolução".

Walter Rodney, na sua obra "Como a Europa Subdesenvolveu a África" publicada em 1973, toma uma posição mais radical quando afirma que "Um componente indispensável do subdesenvolvimeto moderno é que ele expressa uma forma particular de exploração: a exploração de um país por outro. Todos os chamados países subdesenvolvidos no mundo são explorados por outros países; e o subdesenvolvimento de que hoje nos preocupamos é o resultado da exploração capitalista, imperialista e colonialista. Sociedades na Ásia e em África estavam a desenvolver-se autónomamente até que foram conquistadas directamente ou indirectamente pelas potências capitalistas. Quando isto ocorreu, a exploração aumentou a exportação do excedente económico, retirando a essas sociedades o benefício dos seus recursos naturais e do seu trabalho".

Contudo, a natureza e o efeito desta exploração dos países pobres pelos países ricos não pára aqui; ela acontece em todo o universo de relações entre eles. Todos sabemos, por exemplo, do impacto negativo da "fuga de cérebros (brain drain)" que deixa os países subdesenvolvidos em vazio sem os seus quadros mais qualificados, que encontram nos países desenvolvidos melhores oportunidades de carreira profissional e uma qualidade de vida melhor, sem que para isso os países ricos tivessem de investir um cêntimo em escolas, professores e universidades, e somente a grande custo e sacrifício dos países subdesenvolvidos, que vêm desvanecer rapidamente o rendimento do seu investimento na educação dos seus quadros jovens mais promissores.

Esta dominação económica toma diversas formas, quer directas ou indirectas, como é o exemplo da política de subsídios à agricultura dos países ricos, que resultam em barreiras à livre concorrência de produtos dos países pobres, com efeitos económicos catastróficos para mais de metade da população do planeta.

A par da dominação económica externa, devemos também considerar numa perspectiva histórica o papel das elites locais africanas, que embora em número reduzido, detêm em exclusivo o poder económico e político nos países africanos. Como agentes do sistema capitalista mundial, as elites locais são hoje os principais responsáveis e beneficiárias da anarquia económica reinante, do compadrio e da corrupção, do assalto aos recursos naturais, da fuga aos impostos, do roubo das melhores terras, e da exploração desenfreada de mão-de-obra africana barata.

Para melhor enterdermos o problema do empobrecimento da África é necessário recorrermos à história e analizarmos o padrão de desenvolvimento secular dos seus povos.

Em termos da aplicação do enfoque histórico ao subdesenvolvimento dos povos africanos são geralmente aceites as seguintes três fases principais da integração dos povos africanos no sistema económico mundial:

1 - Desde o começo da construção do sistema económico mundial, na primeira fase do capitalismo mercantilista - do Séc. XVII ao Séc. XIX - em que o centro era a Europa, e a periferia era constituída pela África, América do Norte, América do Sul, e Caraíbas, e em que o tráfico de escravos do Atlântico era a base do sistema económico internacional.

2 - A fase colonial, desde a "Corrida à África" no terceiro quartel do Séc. XIX até 1960, ano em que a descolonização política de África se acelerou com a ascendência à independência de muitas colónias africanas. Durante este período, o objectivo do sistema económico mundial foi a exploração acelerada dos recursos agrícolas (produtos tropicais) e minerais produzidos em África, e a sua consequência na exploração desenfreada dos trabalhadores africanos das colónias, conseguidos sempre através de custos sociais muito elevados para os povos coloniais.

3 - A fase da globalização, desde os princípios de 1960 até aos nossos dias, em que aos países africanos apesar de terem conseguido independência nominal das potências colonizadoras, foram ainda mais explorados e marginalizados atingindo níveis de pobreza e desarticulação social extremos nunca antes atingidos, já que aos novos "estados" africanos não correspondiam "nações" africanas, o que resultou numa pràtica de golpes de estados frequentes e na ascendência de elites políticas nacionais mais dependente dos anteriores patrões coloniais e que facilitou ainda mais a exploração dos países africanos pelas grandes companhias multinacionais (transnacionais em brasileiro).

Contudo e ainda numa perspectiva histórica, para termos uma visão mais completa do fenómeno do subdesenvolvimento e da pobreza actuais em África, é também necessário analizarmos o papel das elites locais que detêm o poder económico, político e militar e mantêm os seus irmãos africanos num grau de pobreza absoluta. Assim e numa perspectiva mais secular, os potentados locais africanos tiveram sempre um papel fundamental na captura de escravos no interior de África (nas Guerras de Kuata! Kuata! em Angola, por exemplo), e na oferta de escravos para os diversos mercados tradicionais consumidores de trabalho escravo, pois sem a sua activa participação o tráfico de escravos africanos teria tido uma existência breve e efémera.

A história demonstra-nos ainda que o tráfico de escravos de África para outras regiões do globo é um fenómeno muito antigo. O tráfico de escravos para califados e sultanatos muçulmanos do Norte de África, Península Ibérica, e do império Otomano perdurou mais de um milénio; o tráfico do Índico para os potentados muçulmanos da Pérsia, Industão, Índia, e da Insulíndia (actual Indonésia), levada a cabo pelos potentados Swahili da costa oriental de África perdurou por mais de seis séculos; e o tráfico de escravos do Atlântico para o Brasil, para o império espanhol nas Américas, para as Antilhas, e para a América do Norte durou mais de trezentos e cinquenta anos.

Ainda neste capítulo a história ensina-nos que no caso particular de Angola durante o Século XIX, por exemplo, a pequena burguesia africana opôs uma luta renhida à abolição da escravatura e alinhou-se com os negreiros brasileiros e portugueses na oposição ao fim do tráfico de escravos angolanos.

Na fase colonial, a conivência das autoridades tradicionais locais, se bem que a um nível mais modesto, foi essencial à sobrevivência do colonialismo em África por cerca de 80 anos (1880 a 1960); e na fase mais recente (ao que poderemos chamar a fase neocolonialista) assistimos à conivência aberta de muitos líderes e elites africanas na exploração desenfreada dos recursos minerais, e a um ciclo crónico de cleptocracias que para si guardam o maior quinhão dos recursos económicos do continente.

Alguns autores vêm a corrupção em África como uma sequela do colonialismo, ao passo que outros a vêm como um problema universal (que existe também nos países desenvolvidos), mas de maior amplitude e profundidade nos jovens estados africanos.

Como achego para um melhor conhecimento do fenómeno da pobreza no mundo, ofereço agora um esboço de um país subdesenvolvido típico, focando na sua estrutura económica, social, cultural e política:

Enfoque Estatístico - demografia, sociedade (educação, saúde e habitação) e economia Enfoque Estrutural - economias justaposta e dominadas e dualistas

Desarticulação na agricultura Desarticulação urbana: a atração das populações rurais para as cidades Monetarização limitada da economia; ausência de estruturas de poupança e investimento e de mercado de capitais internos que facilitem a criação de pequenas e médias empresas;

métodos de gestão ineficientes e falta crónica e aguda de gestores com conhecimento e experiência na operação de firmas e de agências do governo.

Sub-emprego rural e urbano

Ausência de política monetária eficaz capaz de controlar situação crónica de inflação

O papel das firmas exportadoras e a concentração do comércio exterior num número limitado de produtos agrícolas tropicais ou minerais. Desarticulação na balança comercial e de pagamentos A dominação externa através das trocas comerciais e fluxos de capitais

A tecnologia para as indústrias extractivas é controlada por firmas multinacionais estrangeiras que operam no país como ilhas isoladas do resto da economia.

Enfoque Social

Níveis baixos de saúde e de cobertura sanitária, falta de acesso a água potável, níveis baixos de educação e acesso à educação, condições de habitação muito pobres, alta natalidade e mortalidade (especialmente infantil), baixa expectativa de vida;

endemias como a malária (paludismo), cólera e doença do sono são permanentes, mobilizando grande parte dos recursos da rede de saúde, embora causando ainda elevada mortalidade na população;

O impacto da SIDA e os meninos de rua como os dois maiores desafios para os países subdesenvolvidos.

Enfoque Cultural Choque de culturas tradicional e avançada (orientada para o estrangeiro)

Formas de dominação social, cultural e política por países desenvolvidos

Enfoque Político

Regimes políticos autocráticos com base militar e sem tradição democrática, incluindo ditadura de caudilho; golpes de estado frequentes; Desarticulação entre estado e nação, e entre o poder tradicional e a elite de estado; Passado recente colonial.

Índice de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas é uma forma de medir o desenvolvimentode um país em termos de expectativa de anos de vida, nível de educação e rendimento efectivo per capita. Por outro lado, o Índice de Pobreza Humana, também calculado pelas Nações Unidas, mede o desenvolvimento de um país em termos da pobreza (o que falta) de um país em temos da percentagem de pessoas que se esperam morrer antes dos 40 anos de idade, percentagem de analfabetismo entre adultos, percentagem de pessoas sem acessoa serviços médicos e de saúde, percentagem de pessoas com acesso a água potável não contaminada, e a percentagem de crianças com peso abaixo do normal com idade inferior a 5 anos.

4.17 A Teoria do Sistema Económico Mundial

 

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Wallerstein

4.16 A Escola dos Annales d'Histoire Économique et Sociale

 

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Saturday, June 17, 2006

4.9 Raça e História

 

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Sunday, June 11, 2006

4.15 Breve História do Pensamento Económico

 

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História do Pensamento Económico e Teorias de Desenvolvimento Económico

As ideias económicas na Grécia Antiga - Platão, Aristóteles e Xenofonte - e no Império Romano - Cato e Cícero
As ideias económicas na Idade Média - S. Tomás de Aquino e Santo Agostinho

O Crédito e o Juro na Idade Média

As Repúblicas Italianas e o Comércio com o Levante

A Expansão Europeia

As ideias mercantilistas - Colbert, Proteccionismo e as grandes companhias de monopólio de comércio e indústria

Le Tableau Economique de François Quesnay e os Fisiocratas
Adam Smith An Inquiry into the Nature and Causes of the Wealth of Nations
Robert Malthus e o Princípio da População e a Lei dos Rendimentos Decrescentes
Jean Baptiste Say - o trabalho é a origem de todo o valor (riqueza)
David Ricardo On the Principles of Political Economy and Taxation
Karl Marx e a teoria dos modos de produção
A Teoria do Imperialismo de Lenine
Simon Kuznets e os Aspectos Quantitativos do Desenvolvimento Económico - Tomada de consiência do fenómeno do desenvolvimento
As Etapas de Desenvolvimento Económico de Walt Whitman Rostow
Paul Baran e a Economia Política do Subdesenvolvimento
Desenvolvimento do Subdesenvolvimento
Enfoque Estruturalista - Raul Prebish e Celso Furtado e as estruturas dualistas
Modelos de Dependência - Samir Amin, Gunder Frank & Emmanuel (Troca Desigual)
O Sistema da Economia Mundial de Immanuel Wallerstein e a globalização

Tuesday, May 30, 2006

4.10 África, Um Continente Sem História?

 

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A omissão de África pelos historiadores não resultou somente do imperativo colonial de denegrir os povos africanos, nem mesmo porque os povos não usavam escrita antes do período colonial em grande parte de África. Esta negligência foi baseada numa presunção acerca da história e numa hipótese falsa acerca de África. Mesmo os que se opuseram ao estudo e ensino da história de África não negam que a África tinha história. A razão desta prática nasceu da posição de Hegel de que a história se procupa fundamentalmente com a explicação da evolução política da espécie humana. Hegel argumentou que os reinos africanos do seu tempo representavam o estado original de evolução política da humanidade, atrazados em relação às nações mais avançadas, e que a ausência da evolução política desses reinos os colocava portanto atrás ou mesmo fora da história. Para Hegel, o que importava era o estudo da história das sociedades avançadas, já que as atrasadas, preconizava ele, seguiriam uma trajectória semelhante.

África - Berço da Humanidade
As Antigas Civilizações do Sahara
A Civilização Egípcia
Os Reinos de Kush, Meroé e Napata (Núbia)
O Reino de Axum na Etiópia
Os Berberes do Norte de África
O Empório de Cartago
O Magrebe sob Domínio Romano
A África de Ptolomeu
As Viagens de Ibn Batuta
A Lenda do Preste João
A Relação do Congo de Duarte Lopes e Fillipo Pigaffetta
As Aventuras Extraordinárias de André Battel
As Descrições de O. Dapper e do Abade XYZ
A Descrição Histórica dos Reinos de Congo Matamba e Angola do Padre Cavazzi
O Mito do Bom Selvagem de Jean Jacques Rousseau
A Abolição do Tráfico de Escravos e da Escravatura
As Viagens de Exploração ao Interior de África
David Livingstone e o Despertar do Interesse Europeu sobre África
Raça e História - Franz Boas e Claude Levi-Strauss
A Negritude de Leopold Senghor e de Aimé Cesaire
Frantz Fanon e o Colonialismo - Os Condenados da Terra
A Obra de Basil Davidson na Divulgação da História da África Antiga
As Primeiras Histórias de África Escritas Por Estudiosos Europeus - Roland Oliver e John Fage
A Pré-História de África de J. Desmond Clark
A Origem Africana da Humanidade de Cheikh Anta Diop
Literatura de Raíz Africana
Jan Vansina e a Etno-História
Os Reinos da Savana de Jan Vansina
A História Geral da África editada pela UNESCO
Joseph Miller e a História do Tráfico de Escravos do Atlântico

4.11 Angola na História do Mundo




-- Atenção Amigo Leitor: Este Capítulo Ainda Está Em Construção --

Mencionei atrás nesta Viagem que o estudo da História de Angola não ocorre num vácuo, ou numa proveta de laboratório, nem se limita ao que aconteceu em Angola sómente. O seu estudo tem que ter em atenção o que se passou ou passava nos países (ou populações) mais chegados a Angola ao longo dos tempos. Precisamos assim de relacionar Angola com o resto do mundo, e investigar as influências que recebeu do exterior e a influência que exerceu nos povos da África Central, no Atlântico Sul, nas Américas, na Europa, e mesmo no mundo; em poucas palavras, é necessário enquadrar a História de Angola na História Universal.

Assim é importante relacionar a História de Angola com a história dos povos Bantos que cedo se estabeleceram no que hoje chamamos território de Angola; com a história de Portugal como potência colonial de cinco séculos; com a história do Brasil, nação irmã e cliente mais importante na parceria do tráfico de escravos - onde hoje há mais descendentes de africanos do que africanos em Angola; e com a própria história geral de África - seja de povos próximo como os do Congo ou de S. Tomé, ou de sociedades ou culturas mais distantes no espaço e no tempo, como o a civilização Suahili na costa oriental de África ou mesmo da República da África do Sul nos tempos mais recentes.

É ainda necessário relacionar a História de Angola com a história atlântica e de todos os seus povos ribeirinhos, como a América Latina (antigas colónias de Espanha e Portugal), as Antilhas, a Holanda, a Inglaterra, a França, e mesmo os Estados Unidos da América e até o Canadá; de realçar o papel do tráfico de escravos angolanos na economia mundial do século XVI ao século XIX.

É bom lembrar que desde a sua imersão na economia e história mundiais nos finais do Século XV, os povos de Angola, embora hoje um pouco arredados dos centros de decisão mundial, estiveram no cerne de três grandes desenvolvimentos da história da humanidade nos últimos quinhentos anos. A saber,

a) Os escravos levados de Angola e Congo aguentaram durante mais de 350 anos a carga mais difícil na construção do Novo Mundo (Brasil, Antilhas e Estados Unidos) e alimentaram a riqueza económica e preponderância política da Europa durante o mesmo período;

b) As disputas territoriais entre Portugal (Lunda, Angola) e Leopoldo II da Bélgica (Estado Livre do Congo) foram o pomo de discórdia que levou à realização da Conferência de Berlim onde a consequente partilha de África teve lugar e onde nasceram os impérios coloniais europeus que haviam de perdurar cerca de um século; e,

c) Foram nas chanas das Terras do Fim-do-Mundo em Angola (Cuito Cuanavale) que se travaram as batalhas finais mais decisivas da Guerra Fria tiveram lugar, o que eventualmente resultou no desmoronar dos bastiões brancos em África (Rodésia, Sudoeste Africano e o regime de apartheid na República da África do Sul), e na queda final da experência marxista-leninista de 70 anos da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas na Europa Oriental e Ásia Central.

Assim, vamos rever em mais detalhe estes três desenvolvimentos de forma a melhor podermos compreender o papel de Angola na história da humanidade.

A - Angola e a Ascensão da Hegemonia Europeia

Os Escravos de Angola no Ciclo do Açúcar do Brasil no Século XVII

Como bem disse o Padre António Vieira em meados dos Séc. XVII na sua campanha de angariar suporte para a retomada pelos Portugueses das fontes de escravos em África Central (São Tomé, Loango, Cabinda, Malembo, Soio, Luanda e Benguela)"Sem Negros não há Pernambuco e sem Angola não há Negros!".

Os escravos de Angola foram o fulcro que sustentou a economia açucareira do Brasil no Século XVII, a mineira no Século XVIII, e a cafeeira até aos fins do Século XIX. Durante estes três séculos o Brasil desenvolveu um papel fundamental no quadro da economia mundial, ao mesmo tempo que o trabalho do escravo Angolano era o agente principal da criação da riqueza no Brasil e da sua contribuição para a economia mundial.

Em termos estatísticos muito sumários, estima-se que durante o período do tráfico de escravos do Atlântico (entre 1519 e 1867), tenham sido levados de Angola e da Bacia do Congo mais the 5 milhões de pessoas, a uma média mensal de cerca de 1.250 (ou média diária de cerca de 40 escravos), perfazendo cerca de 44% da exportação de escravos de África. Deste número (14.000 por ano) cerca de 10.000 em média chegava anualmente ao Brasil. Em termos do total para o tráfico de escravos do Atlântico, de 1519 a 1867, 11,6 milhões de homens, mulheres e crianças foram levadas do interior de África para as Américas, 3,3 milhões morreram no percurso entre a sua região de origem e o porto negreiro na costa, e 1,5 milhões morreram na Passagem do Meio (travessia do Atlântico). O número total de pessoas escravizadas e vendidas ou que morreram no tráfico do Atlântico sómente, excluindo o número de escravos exportados para o Norte de África e estados árabes e o número de escravos exportados para o Irão, Índia, e para o resto da Ásia, estima-se em mais de 15 milhões.

Ainda que em forma muito sumária, penso que é útil delinear aqui a estrutura da economia mundial dos séculos XVII e XVIII e o papel que Angola e o Brasil desempenharam na mesma.

Com a derrota da Armada Invencível da União Ibérica no Canal da Mancha em 1588, Portugal perdeu grande parte da sua marinha de guerra e mercante e com elas o seu primeiro império colonial - a Índia. Para Portugal havia assim que reagrupar depressa e encontrar outra fonte de riqueza essencial para o sustento da sua economia, o que se veio a concretizar com a rápida expansão da cultura do açúcar (a famosa cana mélica do Levante) no Brasil. Nasceu assim o segundo império português - o Brasil - que havia de perdurar até aos princípios do Século XIX.

Os Portugueses foram os primeiros a estabelecer colónias com base agrícola primeiro em África (São Tomé) e depois nas Américas (Brasil); contudo com uma população relativamente escassa, se a compararmos com a da Espanha, Inglaterra e França, os Portugueses depressa concluiram que a empresa da colónia agrícola de plantação era de facto muito rentável, mas que requeria outra fonte de mão-de-obra que não colonos portugueses, descobrindo assim quanto papel fundamental poderia o escravo africano desempenhar neste novo sistema económico mundial.

Contudo, vazios de homens e de capitais, de equipamento e de meios de transporte, os Portugueses tiveram que financiar a empresa do açúcar brasileiro com empréstimos concedidos por banqueiros e comerciantes Holandeses, para a compra de equipamento produzido na Holanda, ao mesmo tempo que o transporte do açúcar brasileiro para a Europa e dos escravos de África para o Brasil eram feitos também em navios holandeses.

O influxo de capital para os Países-Baixos foi por sua vez sustentado em grande parte por Judeus (Cristãos-Novos) que tinham sido expulsos da Península Ibérica e que se haviam refugiado nos Países-Baixos. Porém, é importante relembrar que desde os primórdios da colonização das Américas os Holandeses adoptaram uma stratégia económica com base no comércio ultramarino. Com a fundação das companhias de comércio ultramarino (as percursoras das actuais sociedades anónimas), os Holandeses desde a partida asseguraram o monopólio do comércio com a Ásia, a África e as Américas. A sua frota marítima era constituída por navios de maior tonelagem e de tripulação reduzida, o que rendia melhores lucros, e nos finais do Século XVII a sua frota mercante era maior que as frotas da Inglaterra, da França, da Alemanha, e de Portugal combinadas.

Devemos aqui relembrar que, como resultado do Tratado de Tordesilhas firmado com a Espanha em 1496, os dois povos ibéricos dividiram o mundo entre si, cabendo aos Portugueses a África com o seu manancial quase infinito de mão-de-obra, e a Índia com possibilidades infinitas de comércio. Os Espanhóis, por seu lado, ficaram com os ricos depósitos de ouro e prata nas Américas e com o comércio com as Filipinas no Extremo Oriente; contudo sem uma oferta abundante, rentável e segura de mão-de-obra, que podia ser fornecida apenas pelos Portugueses.

No que respeita à oferta de mão-de-obra, os Portugueses usaram escravos africanos primeiro na produção de açúcar na Ilha da Madeira, e depois mais tarde na Ilha de São Tomé, onde ganharam a experiência na captura, transporte e venda de escravos africanos para regiões distantes. Experiência esta que se tornou valiosa nas primeiras "encomiendas" que Filipe II de Espanha (I de Portugal) conferiu em 1602 para as minas de ouro no México, estabelecendo-se assim o que mais tarde se veio a designar pelo tráfico de escravos do Atlântico, e no qual Portugal desenvolveu um papel importante na primeira fase do comércio negreiro, e daí, o seu avanço original no comércio pioneiro de Africanos através do Atlântico.

Pela sua oportunidade e importância, transcrevo a seguir um trecho da "Formação Económica do Brasil", páginas 10 e 11, do Professor Celso Furtado, recentemente falecido, cuja obra é sem dúvida para mim a mais importante de todos os economistas de língua portuguesa:

"A partir da metade do Século XVI a produção portuguesa de açúcar passa a ser mais e mais uma empresa em comum com os flamengos, inicialmente representados pelos interesses de Antuérpia e em seguida pelos de Amsterdã. Os flamengos recolhiam o produto em Lisboa, refinavam-no e faziam a distribuição por toda a Europa, particularmente o Báltico, a França e a Inglaterra.

A contribuição dos flamengos - particularmente dos holandeses - para a grande expansão do mercado do açúcar, na segunda metade do Século XVI, constitui um fator fundamental do êxito da colonização do Brasil. Especializados no comércio intra-europeu, grande parte do qual financiavam, os holandeses eram nessa epoca o único povo que dispunha de suficiente organização comercial para criar um mercado de grandes dimensões para um produto práticamente, como era o açúcar.

... E não sómente com a sua experiência comercial contribuíram os holandeses. Parte substancial dos capitais requeridos pela empresa açucareira viera dos Países-Baixos. Existem indícios abundantes de que os capitalistas holandeses não se limitaram a financiar a refinação e comercialização do produto. Tudo indica que os capitais flamengos participaram no financiamento das instalações produtivas no Brasil bem como no da importação da mão-de-obra escrava.

... Se se tem em conta que os holandeses controlavam o transporte (inclusive parte do transporte entre o Brasil e Portugal), a refinação e a comercialização do produto depreende-se que o negócio do açúcar era na realidade mais deles do que dos portugueses. Somente os lucros da refinação alcançavam aproximadamente a terça parte do valor do açúcar em bruto
."

Animados com o êxito da Companhia das Índias Orientais na Insulíndia e com a derrota dos Portugueses na Índia e a sua fraqueza militar e económica no Brasil e em África, os Holandeses depressa adoptaram a mesma solução para o domínio do Atlântico Sul, o que levou primeiro ao estabelecimento da Companhia Privilegiada da Índias Ocidentais em 1621 e à conquista de Salvador da Bahia em 1624 (retomada pelos Portugueses e Espanhois no ano seguinte), de Recife (na Capitania de Pernambuco) em 1630, e poucos anos depois a costa entre Sergipe e o Maranhão.

Cientes da necessidade de assegurar uma oferta abundante, segura e barata de esravos africanos, os Holandeses tomaram aos Portugueses em 1637 o Forte de São Jorge da Mina no Golfo da Guiné, e mais tarde em 1641 a Ilha de São Tomé e a colónia de Angola (Luanda e Benguela), que eram já os principais portos negreiros fornecedores de escravos na costa africana a sul do equador para a indústria do açúcar brasileira.

Contudo, os escravos africanos não eram só essenciais à produção de açúcar do Brasil; eles eram também imprescindíveis às minas de prata do Perú e da Bolívia (a serra de prata de Potosi), e mesmo à produção de ouro no México. Em termos muito sumários as minas da América Espanhola absorveram durante o período do tráfico de escravos do Atlântico mais de 2,6 milhões de africanos (à razão de cerca de 7.500 por ano), o que levou a União Ibérica (Espanha e Portugal) a concentrar os seus esforços na reconquista imediata da Bahia, Pernambuco e Maranhão. Este esforço veio a materializar-se com a expulsão definitiva dos Holandeses de Angola e São Tomé em 1648 e do Brasil em 1654, e a consequente restauração do domínio português (mais própriamente, o domínio brasileiro) do Atlântico Sul.

A Ascensão da Economia de Plantação nas Antilhas

Cientes do seu domínio da economia açucareira, os Holandeses deixaram o Brasil mas não sem levarem consigo a tecnologia, o capital, o equipamento, e as fontes de escravos africanos, e mudaram-se para as Antilhas, onde depressa estabeleceram plantações que em poucos anos suplantaram o volume de produção do açúcar brasileiro, o que veio a resultar numa baixa munidial de preços do açúcar muito longa que se traduziu numa crise económica muito longa e profunda da economia açúcareira brasileira da qual jamais se haveria de recuperar. De facto, com fontes de capital e mão-de-obra asseguradas, com maquinaria e equipamento novo e mais moderno, e com custos de transporte do açúcar mais baixos devido à maior proximidade entre as regiões produtoras (Antilhas) e as de consumo (Europa), os Holandeses depressa tomaram o comando da produção e comércio de açúcar, e com isto despertaram o interesse da Inglaterra e da França para fazerem o mesmo, deixando os Portugueses no Brasil na difícil posição de terem de competir num mercado em que os preços estavam numa baixa de longa duração, quando os seus custos de produção continuavam a cresecer.

Seguindo o exemplo dos Holandeses, em breve os Ingleses e Franceses tomaram aos Espanhois as ilhas mais importantes nas Antilhas, com a excepção das ilhas de Cuba e Porto Rico, estabelecendo promissoras colónias de plantação de açúcar no Haiti (França), na Jamaica e em Barbados (Inglaterra).

Com um excedente de população relativamente grande, a Inglaterra depressa copiou e expandiu o modelo de plantação de açúcar levado pelos Holandeses para as Antilhas, que passou a incluir também plantações de tabaco e anil nas ilhas, e de algodão nas Colónias Americanas mais meridionais (Virginia, as Carolinas e a Geórgia) no continente americano.

Antes de recorrer ao tráfico de escravos africanos através do Atlântico, os Ingleses usaram primeiro o excedente da sua população das suas Ilhas Britânicas com fonte principal de mão-de-obra para as suas novas colónias nas Antilhas e na América. Como resultado das profundas transformações económicas na agricultura inglesa (o regime de propriedade cercada (Enclosures) para a criação de grandes rebanhos de carneiros para a produção industrial de lanifícios nas cidades), grande número de trabalhadores da terra viram-se sem possibilidades de sobrevivência nos campos, não tendo outro recurso senão tentarem melhor sorte nas cidades, para onde emigravam em grande número, e oferecerem a sua força de trabalho no Novo Mundo através de contratos de regime de servidão temporária (de cinco a sete anos), a troco do pagamento da passagem, comida e dormida durante o termo do contrato, e no final deste, um pedaço de terra no Novo Mundo, ou um pequeno montante em dinheiro, que podiam investir eles próprios em pequenas fazendas ou comércio.

É de salientar aqui que as condições de trabalho para os trabalhadores ingleses em regime de servidão temporária nas Antilhas e nas Colónias Americanas não eram melhores que as do escravo africano, na medida em que o trabalhador em regime de servidão temporária era mais barato que o escravo de África, e a sua oferta em número era muito maior que a procura. Porém, devido à concorrência militar entre a Inglaterra e a França no Novo Mundo, este excesso de população começou a ser usado também na guarnição de fortes espalhados pelo mundo e no número crescente de navios de guerra necessários para manter a sua hegemonia, em vez de continuar a ser canalizada para a economia de plantação. Esta redução emergente da oferta de mão-de-obra para as planatações nas Antilhas e na América levou a Inglaterra e a França a embarcar também no negócio do tráfico de escravos africanos em grande escala.


O Desenvolvimento das Colónias Inglesas na América

Com o rápido desenvolvimento económico e populacional das Antilhas, os Ingleses encontraram nas colónias da Nova Inglaterra (Maine, New Hampshire, Massachussets, Rhode Island, New York, Pennsylvania, Delaware e Maryland), a região ideal para a produção de artigos de consumo (cereais, batata, madeira, vestuário, ferramentas, equipamento, navios e outros bens de consumo e capital) para consumo corrente nas Antilhas, a um preço mais baixo que os produtos produzidos na Europa, já que os custos de mão-de-obra eram mais baixos na América e o custo do frete marítimo era muito menor, devido a maior proximidade da América em relação às Antilhas, do que a distância longa e perigosa entre as Antilhas e a Europa. Da interacção de todos estes factores resultou no rápido desenvolvimento económico e populacional das Colónias Americanas, que cedo se estabeleceram com o mercado fornecedor da maioria dos bens necessários às economias de plantação nas Antilhas e as colónias emergentes no centro e sul do continente norte-americano. Do mesmo modo, as colónias do Sul (Virginia, Carolinas e Geórgia) cedo se especializaram na produção de tabaco, arroz, e, principalmente, algodão, que em breves anos se tornaram a principal região produtora de algodão e abastecedora das economias emergentes no Novo Mundo, em África, e principalmente na Europa.


O Ciclo do Ouro no Brasil

A descoberta de ouro no Rio das Velhas e em Vila Rica em 1702 e de diamantes em Minas Gerais no Brasil anos mais tarde salvanguardou a independência política de Portugal por mais de um século, ao mesmo tempo que, irónicamente, relegou a economia lusitana para um estado de subdesenvolvimento crónico que havia de perdurar quase três séculos. Isto porque os rendimentos do "quinto" arrecadado pela corôa portuguesa do ouro do Brasil foram suficientemente abundantes para Portugal poder continuar como estado independente, ao mesmo tempo que enfeudaram a economia portuguesa ao domínio da inglesa, através dos tratados de 1654 e de Methuen em 1703, pelos quais o suporte militar inglês era garantido a custo da ausência completa de qualquer indústria agrícola ou transformadora de relevo em Portugal e sujeição absoluta à indústria inglesa.

Assim, o ouro do Brasil não parava sequer em Lisboa; era imediatamente re-exportado como pagamento para as importações inglesas, ao passo que o papel de Portugal na economia europeia era reduzido à produção de vinho do Porto para exportação, cuja indústria e comércio eram por sua vez controlados por mercadores ingleses. Por outro lado, o que restava da riqueza do ouro foi aplicada em Portugal em investimentos supéfluos e retrógrados como o Convento de Mafra, em vez de serem canalizados para investimentos na agricultura, na indústria ou na frota marítima, que haveriam de valorizar a economia.

Para a Inglaterra, os lucros imensos das exportações para Portugal foram um factor chave para a industrialização inglesa, pois permitiram uma acumulação de capital muito rápida e extensa, o que constituiu o impulso inicial para a Revolução Industrial Inglesa já nos princípios do Século XIX.

O Escravo Angolano na Economia Mineira do Brasil

Ainda em desenvolvimento

B - O Papel de Angola na Corrida à África e no Estabelecimento de Impérios Colonialiais

Ainda em desenvolvimento

Introdução - Razões históricas da Presença portuguesa em África

Angola e a Conferência de Berlim


C - Angola e a Africanização da África Austral

Ainda em desenvolvimento

A mais longa guerra de libertação nacional em África

O Regresso das Caravelas

Angola Lugar Quente da Guerra Fria

O Fim da Rodésia, do Sudoeste Africano e do Apartheid na África do Sul
Numa época mais recente, podemos ainda relembrar o exemplo da relevância do petróleo de Angola na economia mundial do Séc. XXI.

Encontrarás nesta Viagem algumas vinhetas cujos temas não aparentam uma ligação directa ou imediata com a História de Angola; contudo elas são importantes para uma melhor compreensão do que pretendo expôr. Estas vinhetas expõem o contexto regional, global e temporal em que a História de Angola se desenrolou, ajudando assim a enriquecer a nossa compreensão dos factores externos mais relevantes que a moldaram.

Se quiseres aprofundar o estudo desta época tão importante para a hegemonia europeia da economia mundial, sugiro a consulta dos textos do Professor Celso Furtado "Teoria e Política do Desenvolvimento Económico", edição portuguesa das Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1971, o clássico "Formação Económica do Brasil" 17a. edição da Editora Nacional, São Paulo, 1980, e "A Economia Colonial no Brasil dos Séculos XVI e XVII", publicado pela Editora Hucitec, São Paulo, 2000;

Recomendo ainda a consulta da obra extensa do Professor Charles Ralph Boxer, também recentemente falecido, da qual realço o clássico "The Portuguese Seaborn Empire 1415 - 1825" originalmente publicado em 1969, e recentemente publicado pela editora Carcanet em cooperação com a Fundação Calouste Gulbenkian e a Comissão Nacionalpara as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses (esta obra é talvez a mais idónea análise da expansão portuguesa e está traduzida em Português e foi publicada no Brasil e em Portugal); a obra "Salvador de Sá and the Struggle for Brazil and Angola 1602 - 1686", publicada pela University of London e a Athlon Press, London, 1952; e a obra "The Golden Age of Brazil - Growing Pains of a Colonial Society 1695 - 1750", publicada pela St. Martin's Press, New York, 1995.

Sugiro ainda a consulta de dois estudos muito bons de história económica: a obra clássica de J. Lúcio de Azevedo "Épocas de Portugal Económico", 3a. edição da Livraria Clássica Editora, Lisboa, 1973; e a obra de Caio Prado Júnior "Histórica Económica do Brasil", publicado pela Editora Brasiliense, 46a. reimpressão, São Paulo, 2004.

4.8 Caleidoscópio da História...


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Em história, desde o acontecimento do facto histórico até à sua compreensão final pelo leitor ou estudioso, occorre um process análogo à passagem de uma imagem através de uma cadeia de várias lentes, em que cada uma distorce (ou corrige) um pouco a imagem recebida da lente anterior, contribuindo assim cumulativamente para uma distorção (ou correcção) um tanto maior ao fim da cadeia de lentes.

Na verdade o facto histórico acontece, é registado, descrito ou narrado, é depois estudado pelo historiador, que o analiza, interpreta e sintetiza através de um critério científico, e é então comunicado por escrito ou por outros meios audio-visuais ao leitor ou estudioso.

 

1. Óptica da História

Contudo, não pára aqui o processo de distorção de informação, pois cada leitor, como consumidor final da informação, compreende o que lê numa forma diferente de outro leitor. Assim, o mesmo facto histórico, com a mesma explicação dada pelo mesmo historiador pode ser compreendido muito diferentemente por pessoas diferentes, ou até pela mesma pessoa em tempos diferentes. Isto leva-nos a ponderar um pouco na necessidade e importância de sabermos as maneiras mais correctas de aprender e ensinar história.

Todos sabemos ainda que o mesmo facto histórico é estudado, interpretado e narrado de formas diferentes por historiadores diferentes; Como exemplo, podemos focar a nossa atenção na restauração de Angola levada a cabo pela esquadra brasileira comandada por Salvador Correia de Sá em 1648, que é interpretada de maneira claramente diferente por historiadores angolanos, portugueses, holandeses e brasileiros, apesar de todos se estarem a debruçar ao mesmo facto histórico.

 

2. Momentos em História

Num horizonte temporal (momentos), temos que ter em atenção que no estudo da história encontramos sempre três momentos (ou tempos) diferentes, a saber:

a) O momento ou época em que o facto histórico aconteceu;
b) o momento ou época em que o historiador o estudou e descreveu; e,
c) O momento ou época em que o leitor o leu ou o estudioso aprendeu

Atendendo à grande probabilidade de cada um desses momentos ter acontecido em épocas diferentes (separados por milhares de anos em alguns casos), com perspectivas diferentes, temos que concluir que cada momento ajuda a colorir um pouco mais o já maravilhoso caleidoscópio da história.

 

3. História e Media

Por outro lado, o meio de comunicação (medium, plural media) pelo qual o conhecimento do objecto histórico é transmitido influencia sobremaneira como a história é compreendida por aquele que recebe informação.

Esta comunicação (como processo ou meio de transmissão de informação), seja na forma da palavra escrita ou imagem impressa, do som ouvido através da rádio, ou da imagem e som através do cinema e da televisão, e mais recentemente na Information Age, através da internet, determina sobremaneira como aprendemos e como compreendemos. Sabemos assim, por exemplo e sem qualquer dúvida que os filmes de Cowboys e Índios dão-nos uma visão limitada e até errada do que foi a história da ocupação da América por colonos europeus; contudo o que aprendemos com John Wayne é difícil de esquecer ou "descolar" e aceitar o que realmente aconteceu.

 

3.1 Processo de Comunicação

Pela ajuda que nos pode dar em melhor compreender os processos de criação, transmissão e recepção de informação, é importante rever alguns aspectos fundamentais de teoria da comunicação. Essencialmente, cinco elementos fundamentais perfazem o processo de comunicação; a saber,

(a) o Emissor - aquele que emite a informação (aquele que a produz). Por exemplo, eu escrevo estas linhas;

(b) Receptor - aquele que a recebe (aquele que a consome); tu lês estas linhas;

(c) o Datum (Data, no plural) - a forma que a comunicação toma (a letra, o número, o sinal binário dígito processado por ambos computadores, a linguagem);

(d) o Meio (Medium) - é o meio de transmissão (aquilo que a transmite), que neste caso é a Internet; e,

(e) a Mensagem - é aquilo que escrevo, o conteúdo da mensagem.

Deste modo e usando o livro como exemplo, o escritor produz informação usando letras e números como caracteres que são impressas numa página de livro numa linguagem que o leitor pode compreender através da sua leitura.

Convém aqui relembrar que a comunicação correcta de uma mensagem (ou de informação) só acontece quando todos os componentes do processo de comunicação desempenham o seu papel correctamente e em sincronia; e que, implicitamente, qualquer mal funcionamento em qualquer componente do processo de comunicação pode distorcer a mensagem ou mesmo impossibilitar a sua transmissão.

 

3.2 A Galáxia de Gutenberg

Como o pensador Canadiano Marshall McLuhan (1911 - 1980) afirmou na sua obra "The Gutenberg Galaxy", University of Toronto Press, Toronto, 1962, "the medium is the message" (em português, "o meio de comunicação é a mensagem"), o que significa que mais do que o conteúdo de uma comunicação, a sua forma (o veículo que é usado na transmissão da informação) é a determinante mais importante da mensagem.

 

3.2.1 Teoria da Comunicação

Para McLuhan, o "meio" (medium, plural media) é qualquer coisa que estende (torna mais extensível) um ou mais orgãos do corpo humano e assim a própria capacidade humana. Por exemplo, o carro pode ser entendido como uma extensão dos pés na medida em que nos permite "andar" mais depressa e "andar" grandes distâncias; o telefone como extensão da boca e do ouvido na medida em que nos permite manter uma conversa (falar e ouvir) com alguém à distância; ou o microscópio é uma extensão dos olhos para vermos em maior detalhe.

Este processo de "extensão do ser humano e das suas capacidades" é realizado através dos melhoramentos contínuos na técnica e nas tecnologias specíficas às diversas actividades humanas, e à medida que novas extensões são descobertas e usadas, as extensões modernas substituem as antigas, tornando-as ultrapassadas e obsoletas. Assim, se a analizarmos ao longo do tempo, a tecnologia não é senão o processo histórico contínuo de extensão da capacidade humana. Como exemplo ao longo dos tempos, sabemos que a viagem de avião substituíu a viagem de carro ou de barco, e estas por sua vez a viagem a cavalo ou a pé; o "word processor" subsituiu a dactilografia, que por sua vez substituiu a caligrafia e a caneta, e a internet substituíu não só o jornal, o livro, a carta, a biblioteca, como também o nosso círculo de amigos "reais" com novos amigos "virtuais" com quem lidamos diáriamente.

 

3.2.2 The Medium is the Message

A experiência que uma extensão (tecnologia) nova nos dá é em si diferente de todas as experiências que tivémos com extensões anteriores; em geral a experiência com uma extensão nova é mais complexa e, ao mesmo tempo, mais intensa, que a experiência com a extensão (tecnologia) anterior.

Usando a internet como exemplo, a maioria dos angolanos na diáspora tem amigos virtuais no forum da Sanzalangola que nunca vimos ou falámos ao real, mas que na verdade os temos como muito queridos e muito chegados, e pelos quais até sentimos muito, mas de uma maneira um pouco diferente dos amigos "reais" tradicionais.

 

3.2.3 Aldeia Global

Assim, o conceito que nós (sanzaleiros) tínhamos de "amizade" anteriormente ao advento do uso da SanzalAngola (internet) foi alterado (talvez alargado) pela possibilidade que a mesma nos dá agora de mantermos relações íntimas, profundas e intensas com pessoas "virtuais" com quem nunca nos encontrámos ao vivo. Desta intensificação em como nos ligamos em tempo real com muitas outras pessoas no mundo com os mesmos interesses como nós, e mesmo até em como nos sentimos no mundo, nasceu o conceito de "aldeia global" (global village), termo também cunhado por McLuhan, que também concluiu que a quantidade de informação que a media nos bombardeia (sujeita) diáriamente "faz-nos hoje viver vários séculos numa década".

 

3.2.4 Meios de Comunicação e História

Também na aprendizagem da história é importante termos em atenção a influência que os meios de comunicação (media) têm na própria história. Assim, a história aprendida (a maneira como "retemos" história) através da leitura de um livro de texto ou de banda desenhada é diferente daquela que aprendemos através da audição de um programa de rádio, ou mesmo se assistirmos a um filme no cinema ou documentário na televisão.

Até hà relativamente pouco tempo, a história que aprendíamos era só através de livros de texto com (relativamente) poucas ilustrações; contudo, com o advento da rádio, e principalmente do cinema e da televisão, o documentário (de audio e vídeo) vai gradualmente substituindo o livro como meio de comunicação preferido para a transferência de cohecimento. A experiência de ler um livro é diferente de ouvir um programa de radio ou o contento de um CD, e ainda mais diferente se a compararmos com a experiência de ver um filme ou um programa na televisão. Sem dúvida que a leitura de um livro requer uma actividade mental crítica maior por parte do leitor; ao passo que ver um filme ou um programa de televisão, o espectador é mais passivo, actuando mais como um consumidor de informação; mas em contrapartida, a quantidade de informação no filme é mais intensa e ao mesmo tempo mais extensa que no livro, o que requer um esforço de memorização maior. Assim, retemos melhor em memória uma imagem com som do que um parágrafo de texto, e daí a popularização do vídeo em detrimento da palavra escrita.

 

3.2.5 História e Internet

Cabe-nos agora rever o papel da internet na aprendizagem da história. Como meio de comunicação para a história a internet difere substancialmente dos outros meios de comunicação na quantidade de informação disponível e na capacidade de conduzir pesquisa numa dimensão muito maior. O internauta tem ao seu alcance imediato, sem ter que saír da sua mesa de trabalho, e a um custo muito baixo, uma quantidade imensa de informação (bibliotecas inteiras em linha). O desafio está mais em como filtrar essa quantidade infinita de informação e só reter o que é relevante à pesquisa do investigador.

A internet, devido à sua natureza universal, é também uma fonte que é mais internacional do que nacional, apesar de não deixar de cobrir perspectivas locais, regionais ou nacionais. Ainda devido à simplicidade de se colocar informação na internet, temos que ser mais exigentes quanto aos padrões (standards) de qualidade e de verificação das fontes de referência, pois há também uma quantidade infinita de informação que não passa através de qualquer processo de controle de qualidade razoável. Assim, "mais" informação não quer dizer necessáriamente que é melhor que "melhor" informação.

Temos assim que consoante o meio de comunicação utilizado, compreendemos e sentimos a história que aprendemos, de forma diferente.

4.7 Escrever História Para Quem?


 

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Para além da subjectividade do historiador importa ainda considerar para quem ele (ou ela) escreveu história. A história não se escreve num vácuo, nem para ninguém em particular ou mesmo nem para todos em geral.

O historiador na sua tarefa de comunicar história preocupa-se também com quem vai ler o que escreveu, com a audiência específica que o vai ler. Assim, encontramos trabalhos superficiais de divulgação histórica cujo alvo de leitura é o público em geral, ou trabalhos profundos de investigação histórica cujo universo de leitores é um número escasso de académicos vivendo em torres de marfim.

No que respeita à história de Angola e de África, a história é também para quem a pode ler. Quero com isto dizer que muitas obras de história sobre povos ou estados africanos foram escritas em línguas estrangeiras e não foram ainda traduzidas para línguas locais, o que nos leva a concluir que essas obras não eram inicialmente destinadas a Africanos, mas a outros leitores, incluindo estudiosos das potências coloniais ou investigadores em universidades estrangeiras. No caso de Angola, a maior parte das obras importantes são em português, se bem que um número crescente de obras escritas em Inglês ainda não tenham sido traduzidas. Podemos assim dizer que até muito recentemente, a maioria das "Histórias de Angola" não foram escritas para Angolanos.


1. "Histórias de Angola"

Mais ainda, no caso pertinente da História de Angola, encontramos algumas "Histórias de Angola" escritas para angolanos, outras para portugueses e brasileiros, ou outras ainda para a comunidade internacional de estudiosos. Na maioria delas encontramos os mesmos factos, mas sintetizados e apresentados em perspectivas diferentes (até antagónicas), capitalizando sempre no interesse do leitor específico. Este processo de "packaging" sublinha ainda mais a natureza subjectiva da obra do historiador não só sobre o que escreve e como o escreve, como também para quem escreve. Assim, podemos constatar um processo simbiótico único na medida em que a história influencia a cultura, ao mesmo tempo que a cultura influencia a história.

Assim, em termos de "Histórias de Angola" encontramos ao longo dos tempos estudiosos de história que procuraram reunir nas suas "histórias" o que eles pensavam importante para o relato da História de Angola.

A primeira obra de vulto é decerto a "Relação do Reino do Congo e das Terras Circunvizinhas" de Duarte Lopez, descrita pela pena de Fillipo Pigafetta, publicada em Roma , em 1591. A "Relação" de Duarte Lopez, é de facto uma história dos Portugueses no Antigo Reino do Congo, acompanhada por uma boa descrição da geografia, animais, flora, economia, costumes, religião e política do mesmo. Naturalmente, a "Relação" de Duarte Lopez reflecte a compreensão da história do seu tempo, e em certa medida, o papel da Igreja Católica na missionização das novas terras descobertas. A "Relação" de Duarte Lopez e Fillipo foi escrita para os leitores europeus, ávidos de saber mais sobre os povos, a geografia, a fauna e flora da África Central.

A História do Reino do Congo, de autor ainda não reconhecido, provavelmente escrita em 1623, é mais uma descrição do Antigo Reino do Congo do que uma história do mesmo, e como tal, limita-se ao Congo e não inclui material que se refira a Angola.

A História Geral das Guerras Angolanas, publicada em Lisboa em 1680, da autoria de António de Oliveira Cadornega, Capitão da conquista portuguesa, tendo vivido cerca de cinquenta anos em Angola, dos quais 28 anos em Massangano e 23 em Luanda. Esta foi a primeira história escrita em Angola por um residente angolano de longa data, assim reflectindo com maior extensão e detalhe a história dos povos da região e da conquista portuguesa. A obra de Cadornega difere das outras "Histórias de Angola" no sentido em que não enaltece tanto o cariz missionário da fé cristã. Ele escreeu a "História Geral das Guerras Angolanas" para um público mais largo, se bem que ainda restrito aos que em Portugal e Brasil se interessavam na vida e história da Angola desse tempo.

A Descrição Histórica dos Três Reinos Congo, Matamba e Angola , do Padre João António Cavazzi de Montecúccolo, publicada em italiano em 1687, também muito extensa e completa, tinha como audiência os estudiosos europeus e as ordens missionárias interessadas no trabalho de evangelização em África.

Por outro lado, a obra de E. G. Ravenstein, The Strange Adventures of Andrew Battell of Leigh, in Angola and the adjoining Regions, edited with Notes and a Concise History of Kongo and Angola, publicada em Londres em 1901, para além de uma crónica biográfica de Andrew Battel, que viveu na região por dezoito anos, contém informações de interesse para a História de Angola, Congo e outros potentados vizinhos. A obra de Ravenstein, aém de ser escrita em inglês, é definitivamente produzida para informar aqueles interessados na génese e expansão do Império Britânico acerca de uma região ao tempo um pouco desconhecida.

Por outro lado, a História de Angola, escrita por Elias Alexandre da Silva Corrêa, e publicada entre 1792-99, nascido no Rio de Janeiro e destacado para Angola em comissão de serviço militarde 1782 a 1789, é já uma obra mais estruturada. A obra está dividida em três partes. A primeira parte começa com um esboço geográfico, e descrição da estrutura política, administrativa, financeira, militar e religiosa da colónia, passando a uma descrição detalhada da sua economia. A segunda parte dedica-se à História dos Portugueses em Angola propriamente dita, seguindo um percurso dos feitos de cada governador, desde Paulo Dias de Novais (o primeiro, de 1574 a 1589) até José de Almeida e Vasconcelos Soveral e Carvalho (1784-90).

O Catálogo dos Governadores do Reino de Angola compilado por por Fêo Cardozo em 1825 e publicado em Paris é mais uma cronologia da história dos Portugueses em Angola até aquele ano. O Catálogo dos Governadores inclui uma biografia do Vice-Almirante Luiz da Motta Fêo e Torres, e um mapa da região preparado pelo Coronel Pinheiro Furtado.

Em 1846, José Joaquim Lopes de Lima publica em Lisboa o terceiro volume dos seus Ensaios Sobre a Estatística das Possessões Portuguezas (Angola e Benguella), considerado por muitos estudiosos como a obra mais completa sobre a colónia de Angola até aos princípios do Século XX. Lopes de Lima baseou a estrutura da sua obra na História de Angola de Elias Alexandre da Silva Corrêa, expandindo e melhorando em grande detalhe a informação sobre a vida da colónia nos últimos cinquenta anos.

A História do Congo, é uma compilação de 211 documentos originais importantes para o estudo da História de Angola, compilada pelo Visconde de Paiva Manso, e publicada postumamente em Lisboa em 1877.
 
Memórias de Feo Torres, catálogo dos governadores de Angola

História de Angola, Alberto de Lemos, 1929

História de Angola, Francisco Castelbranco1932

Angola - Apontamentos Sobre a Ocupação e Início do Estabelecimento dos Portugueses no Congo, Angola e Benguela, Extraídos de Documentos Históricos, coligidos por Alfredo de Albuquerque Felner, Universidade de Coimbra, 1933

História de Angola, Ralph Delgado, 1948 - 1955, 4 Volumes, edição do Banco de Angola, sem data (1969 - 74)
 
Estudos históricos de Gastão de Sousa Dias
 
Estudos "antropológicos", arqueologia, e pesquisas etnológicas de Ferreira Diniz, Mendes Corrêa, Padre Carlos Estermann, Jorge Dias, José Redinha, Castro Soromenho, Henrique Galvão, Mário Milheiros, Vicente Martins, Mesquitela Lima, Lopes Cardoso, Eduardo dos Santos, e Carlos Ervedosa
 
Estudos históricos e geográficos de Ilídio Amaral
 
Angolana - Documentação Histórica sobre Angola, Mário António Fernandes de Oliveira
 
História de Angola, Centro de Estudos Angolanos, MPLA, Argel, 1975 - Henrique Abranches, Artur Pestana (Pepetela), Adolfo Maria, e Tomás Medeiros

Estudos históricos de Jean Vansina, Gerald Bender, David Birmingham, Clarence Smith, René Pellessier, Anne Hinton, Douglas Wheeler, Laurence Henderson, Beatrix Heintz, Jill Dias, Joseph Miller, John Thornton, Linda Heywood,
 
Estudiosos brasileiros da História de Angola - Mariana Cândido, Roquinaldo Ferreira, Selma Pantoja,

Estudos históricos de Aida Freudenthal, Maria da Conceição Neto
 
História de Angola, Alberto de Oliveira Pinto
 
 
2. História e Propaganda

Cabe aqui fazer uma breve abordagem às relações entre a história, a ideologia e regimes políticos. Sabemos que todos os regimes políticos, especialmente os de natureza ditatorial, recorrem à história para confirmar a validade da sua razão de existência. É evidente que a História que usam não é uma história em que prima o rigor do método científico de investigação e comunicação, não é uma história de qualquer forma objectiva; é de facto uma história prostituída, que foi "revista" para distorcer os seus métodos de estudo e comunicação, de forma a resultar numa história que justifica o control do poder político, económico, moral e religioso do grupo que domina o poder político. Este processo de distorcer a história assenta essencialmente no papel da ideologia, que vai buscar à mitologia, à religião e à moral a razão de ser da história do regime e da sociedade por ele controlada. Assim, nestas situaçõe, a história deixou de ser ciência e passou a ser instrumento de propaganda de regimes políticos.

Infelizmente, este rapto da história é muito mais comum (endémico, diria) do que desejamos, pois de uma forma ou outra, a máquina de propaganda de ditaduras tem sempre na história distorcida o seu maior tesouro. Não temos que ir muito longe para encontrar exemplos tristes, entre os quais ressalta a máquina de propaganda nazista, que em alterando a base histórica dos povos que haviam mais tarde de fazer a Alemanha, foram encontrar e justificar o racismo que resultou na extreminação de seis milhões de pessoas de origem judaica na Europa.

Como outro exemplo, podemos citar a história da ocupação europeia da América do Norte, e o seu impacto nas populações nativas, em que a distorção causada pelos filmes de "Cowboys e Índios", é tão funda, que é ainda com certa resistência e dificuldade que se aceita a perspectiva nativa deste encontro.

No caso específico dos povos e dos jovens estados africanos , esta prostituição da história pode muito fácil e rapidamente assumir consequências muito trágicas. Servindo-se do tribalismo como instrumento de "razão de ser" (identidade) de um povo, torna-se fácil explorar diferenças e até justificar genocídios, como foi o exemplo trágico do Ruanda em 1994, e, mais perto de nós, até a guerra fraticida que durante 27 anos persistiu na destruição implacável e total de Angola.


3. Separar o Trigo do Joio

Asim, como leitores e estudiosos de história temos sempre que discernir o trigo do joio, de identificar e separar a história com base científica da história prostituída por regimes ditatoriais, pois sabemos que certas "histórias" não são de facto o registo do passado, mas sim instrumentos de control económico, político, religioso e até moral de uma classe dominante sobre um ou mais povos oprimidos.

Na comunicação do resultado dos seus estudos, o estudioso de história capitula ao rigor do método histórico, e acaba por ter sempre em atenção quem vai ler o que escreveu, escrevendo assim para quem o vai ler. Esta vertente de "marketing" de história não é ciência, e como tal, temos sempre que compreender com precaução a "história" que lemos ou estudamos.


4. História e Audiências

Apesar da frequência dos problemas cobertos acima, temos ainda que ter em atenção, que mesmo fiel a princípios científicos, e por razões completamente legítimas, o comunicador de história tem sempre que "package" a sua mensagem, seja através de um livro sobre história para crianças, de uma obra de divulgação de conhecimento, de um artigo numa enciclopédia popular ou mais erudita, de um artigo num jornal de fim-de-semana, ou de um artigo numa revista para profissionais de história, de um programa na televisão, ou mesmo de um filme.

Em todos estes níveis de detalhe e órgãos de comunicação (media), os factos podem ser os mesmos, mas são relatados ao leitor de forma especial em cada um. Assim, audiências diferentes requerem métodos e níveis de apresentação diferentes.


5. Para Quem é Esta Viagem Pela História de Angola?

Assim, amigo leitor e companheiro de viagem, é legítima a tua pergunta: "Para quem escreves esta Viagem Pela História de Angola"?, ao que me cumpre responder:"para os públicos angolano e português, e em especial para os angolanos na diáspora, para os estudantes, e para aqueles que como eu têm um interesse muito especial na História de Angola".