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Location: Cranbrook, Colômbia Britânica, Canada

Helder Fernando de Pinto Correia Ponte, também conhecido por Xinguila nos seus anos de juventude em Luanda, Angola, nasceu em Maquela do Zombo, Uíge, Angola, em 1950. Viveu a sua meninice na Roça Novo Fratel (Serra da Canda) e na Vila da Damba (Uíge), e a sua juventude em Luanda e Cabinda. Frequentou os liceus Paulo Dias de Novais e Salvador Correia, e o Curso Superior de Economia da Universidade de Luanda. Cumpriu serviço militar como oficial miliciano do Serviço de Intendência (logística) do Exército Português em Luanda e Cabinda. Deixou Angola em Novembro de 1975 e emigrou para o Canadá em 1977, onde vive com a sua esposa Estela (Princesa do Huambo) e filho Marco Alexandre. Foi gestor de um grupo de empresas de propriedade dos Índios Kootenay, na Colômbia Britânica, no sopé oeste das Montanhas Rochosas Canadianas. Gosta da leitura e do estudo, e adora escrever sobre a História de Angola, de África e do Atlântico Sul, com ênfase na Escravatura, sobre os quais tem uma biblioteca pessoal extensa.

Tuesday, May 30, 2006

4.8 Caleidoscópio da História...




Em história, desde o acontecimento do facto histórico até à sua compreensão final pelo leitor ou estudioso, occorre um process análogo à passagem de uma imagem através de uma cadeia de várias lentes, em que cada uma distorce (ou corrige) um pouco a imagem recebida da lente anterior, contribuindo assim cumulativamente para uma distorção (ou correcção) um tanto maior ao fim da cadeia de lentes.

Na verdade o facto histórico acontece, é registado, descrito ou narrado, é depois estudado pelo historiador, que o analiza, interpreta e sintetiza através de um critério científico, e é então comunicado por escrito ou por outros meios audio-visuais ao leitor ou estudioso.

1. Óptica da História

Contudo, não pára aqui o processo de distorção de informação, pois cada leitor, como consumidor final da informação, compreende o que lê numa forma diferente de outro leitor. Assim, o mesmo facto histórico, com a mesma explicação dada pelo mesmo historiador pode ser compreendido muito diferentemente por pessoas diferentes, ou até pela mesma pessoa em tempos diferentes. Isto leva-nos a ponderar um pouco na necessidade e importância de sabermos as maneiras mais correctas de aprender e ensinar história.

Todos sabemos ainda que o mesmo facto histórico é estudado, interpretado e narrado de formas diferentes por historiadores diferentes; Como exemplo, podemos focar a nossa atenção na restauração de Angola levada a cabo pela esquadra brasileira comandada por Salvador Correia de Sá em 1648, que é interpretada de maneira claramente diferente por historiadores angolanos, portugueses, holandeses e brasileiros, apesar de todos se estarem a debruçar ao mesmo facto histórico.

2. Momentos em História

Num horizonte temporal (momentos), temos que ter em atenção que no estudo da história encontramos sempre três momentos (ou tempos) diferentes, a saber:

a) O momento ou época em que o facto histórico aconteceu;
b) o momento ou época em que o historiador o estudou e descreveu; e,
c) O momento ou época em que o leitor o leu ou o estudioso aprendeu

Atendendo à grande probabilidade de cada um desses momentos ter acontecido em épocas diferentes (separados por milhares de anos em alguns casos), com perspectivas diferentes, temos que concluir que cada momento ajuda a colorir um pouco mais o já maravilhoso caleidoscópio da história.

3. História e Media

Por outro lado, o meio de comunicação (medium, plural media) pelo qual o conhecimento do objecto histórico é transmitido influencia sobremaneira como a história é compreendida por aquele que recebe informação.

Esta comunicação (como processo ou meio de transmissão de informação), seja na forma da palavra escrita ou imagem impressa, do som ouvido através da rádio, ou da imagem e som através do cinema e da televisão, e mais recentemente na Information Age, através da internet, determina sobremaneira como aprendemos e como compreendemos. Sabemos assim, por exemplo e sem qualquer dúvida que os filmes de Cowboys e Índios dão-nos uma visão limitada e até errada do que foi a história da ocupação da América por colonos europeus; contudo o que aprendemos com John Wayne é difícil de esquecer ou "descolar" e aceitar o que realmente aconteceu.

3.1 Processo de Comunicação

Pela ajuda que nos pode dar em melhor compreender os processos de criação, transmissão e recepção de informação, é importante rever alguns aspectos fundamentais de teoria da comunicação. Essencialmente, cinco elementos fundamentais perfazem o processo de comunicação; a saber,

(a) o Emissor - aquele que emite a informação (aquele que a produz). Por exemplo, eu escrevo estas linhas;

(b) Receptor - aquele que a recebe (aquele que a consome); tu lês estas linhas;

(c) o Datum (Data, no plural) - a forma que a comunicação toma (a letra, o número, o sinal binário dígito processado por ambos computadores, a linguagem);

(d) o Meio (Medium) - é o meio de transmissão (aquilo que a transmite), que neste caso é a Internet; e,

(e) a Mensagem - é aquilo que escrevo, o conteúdo da mensagem.

Deste modo e usando o livro como exemplo, o escritor produz informação usando letras e números como caracteres que são impressas numa página de livro numa linguagem que o leitor pode compreender através da sua leitura.

Convém aqui relembrar que a comunicação correcta de uma mensagem (ou de informação) só acontece quando todos os componentes do processo de comunicação desempenham o seu papel correctamente e em sincronia; e que, implicitamente, qualquer mal funcionamento em qualquer componente do processo de comunicação pode distorcer a mensagem ou mesmo impossibilitar a sua transmissão.

3.2 The Gutenberg Galaxy

Como o pensador Canadiano Marshall McLuhan (1911 - 1980) afirmou na sua obra "The Gutenberg Galaxy", University of Toronto Press, Toronto, 1962, "the medium is the message" (em português, "o meio de comunicação é a mensagem"), o que significa que mais do que o conteúdo de uma comunicação, a sua forma (o veículo que é usado na transmissão da informação) é a determinante mais importante da mensagem.

3.2.1 Teoria da Comunicação

Para McLuhan, o "meio" (medium, plural media) é qualquer coisa que estende (torna mais extensível) um ou mais orgãos do corpo humano e assim a própria capacidade humana. Por exemplo, o carro pode ser entendido como uma extensão dos pés na medida em que nos permite "andar" mais depressa e "andar" grandes distâncias; o telefone como extensão da boca e do ouvido na medida em que nos permite manter uma conversa (falar e ouvir) com alguém à distância; ou o microscópio é uma extensão dos olhos para vermos em maior detalhe.

Este processo de "extensão do ser humano e das suas capacidades" é realizado através dos melhoramentos contínuos na técnica e nas tecnologias specíficas às diversas actividades humanas, e à medida que novas extensões são descobertas e usadas, as extensões modernas substituem as antigas, tornando-as ultrapassadas e obsoletas. Assim, se a analizarmos ao longo do tempo, a tecnologia não é senão o processo histórico contínuo de extensão da capacidade humana. Como exemplo ao longo dos tempos, sabemos que a viagem de avião substituíu a viagem de carro ou de barco, e estas por sua vez a viagem a cavalo ou a pé; o "word processor" subsituiu a dactilografia, que por sua vez substituiu a caligrafia e a caneta, e a internet substituíu não só o jornal, o livro, a carta, a biblioteca, como também o nosso círculo de amigos "reais" com novos amigos "virtuais" com quem lidamos diáriamente.

3.2.2 The Medium is the Message

A experiência que uma extensão (tecnologia) nova nos dá é em si diferente de todas as experiências que tivémos com extensões anteriores; em geral a experiência com uma extensão nova é mais complexa e, ao mesmo tempo, mais intensa, que a experiência com a extensão (tecnologia) anterior.

Usando a internet como exemplo, a maioria dos angolanos na diáspora tem amigos virtuais no forum da Sanzalangola que nunca vimos ou falámos ao real, mas que na verdade os temos como muito queridos e muito chegados, e pelos quais até sentimos muito, mas de uma maneira um pouco diferente dos amigos "reais" tradicionais.

3.2.3 Global Village

Assim, o conceito que nós (sanzaleiros) tínhamos de "amizade" anteriormente ao advento do uso da SanzalAngola (internet) foi alterado (talvez alargado) pela possibilidade que a mesma nos dá agora de mantermos relações íntimas, profundas e intensas com pessoas "virtuais" com quem nunca nos encontrámos ao vivo. Desta intensificação em como nos ligamos em tempo real com muitas outras pessoas no mundo com os mesmos interesses como nós, e mesmo até em como nos sentimos no mundo, nasceu o conceito de "aldeia global" (global village), termo também cunhado por McLuhan, que também concluiu que a quantidade de informação que a media nos bombardeia (sujeita) diáriamente "faz-nos hoje viver vários séculos numa década".

3.2.4 Meios de Comunicação e História

Também na aprendizagem da história é importante termos em atenção a influência que os meios de comunicação (media) têm na própria história. Assim, a história aprendida (a maneira como "retemos" história) através da leitura de um livro de texto ou de banda desenhada é diferente daquela que aprendemos através da audição de um programa de rádio, ou mesmo se assistirmos a um filme no cinema ou documentário na televisão.

Até hà relativamente pouco tempo, a história que aprendíamos era só através de livros de texto com (relativamente) poucas ilustrações; contudo, com o advento da rádio, e principalmente do cinema e da televisão, o documentário (de audio e vídeo) vai gradualmente substituindo o livro como meio de comunicação preferido para a transferência de cohecimento. A experiência de ler um livro é diferente de ouvir um programa de radio ou o contento de um CD, e ainda mais diferente se a compararmos com a experiência de ver um filme ou um programa na televisão. Sem dúvida que a leitura de um livro requer uma actividade mental crítica maior por parte do leitor; ao passo que ver um filme ou um programa de televisão, o espectador é mais passivo, actuando mais como um consumidor de informação; mas em contrapartida, a quantidade de informação no filme é mais intensa e ao mesmo tempo mais extensa que no livro, o que requer um esforço de memorização maior. Assim, retemos melhor em memória uma imagem com som do que um parágrafo de texto, e daí a popularização do vídeo em detrimento da palavra escrita.

3.2.5 História e Internet

Cabe-nos agora rever o papel da internet na aprendizagem da história. Como meio de comunicação para a história a internet difere substancialmente dos outros meios de comunicação na quantidade de informação disponível e na capacidade de conduzir pesquisa numa dimensão muito maior. O internauta tem ao seu alcance imediato, sem ter que saír da sua mesa de trabalho, e a um custo muito baixo, uma quantidade imensa de informação (bibliotecas inteiras em linha). O desafio está mais em como filtrar essa quantidade infinita de informação e só reter o que é relevante à pesquisa do investigador.

A internet, devido à sua natureza universal, é também uma fonte que é mais internacional do que nacional, apesar de não deixar de cobrir perspectivas locais, regionais ou nacionais. Ainda devido à simplicidade de se colocar informação na internet, temos que ser mais exigentes quanto aos padrões (standards) de qualidade e de verificação das fontes de referência, pois há também uma quantidade infinita de informação que não passa através de qualquer processo de controle de qualidade razoável. Assim, "mais" informação não quer dizer necessáriamente que é melhor que "melhor" informação.

Temos assim que consoante o meio de comunicação utilizado, compreendemos e sentimos a história que aprendemos, de forma diferente.

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