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Location: Cranbrook, Colômbia Britânica, Canada

Helder Fernando de Pinto Correia Ponte, também conhecido por Xinguila nos seus anos de juventude em Luanda, Angola, nasceu em Maquela do Zombo, Uíge, Angola, em 1950. Viveu a sua meninice na Roça Novo Fratel (Serra da Canda) e na Vila da Damba (Uíge), e a sua juventude em Luanda e Cabinda. Frequentou os liceus Paulo Dias de Novais e Salvador Correia, e o Curso Superior de Economia da Universidade de Luanda. Cumpriu serviço militar como oficial miliciano do Serviço de Intendência (logística) do Exército Português em Luanda e Cabinda. Deixou Angola em Novembro de 1975 e emigrou para o Canadá em 1977, onde vive com a sua esposa Estela (Princesa do Huambo) e filho Marco Alexandre. Foi gestor de um grupo de empresas de propriedade dos Índios Kootenay, na Colômbia Britânica, no sopé oeste das Montanhas Rochosas Canadianas. Gosta da leitura e do estudo, e adora escrever sobre a História de Angola, de África e do Atlântico Sul, com ênfase na Escravatura, sobre os quais tem uma biblioteca pessoal extensa.

Tuesday, May 30, 2006

4.4 Breve História da História


1. Mitologia, Literatura e História

Por muito tempo, a história dos povos era vista como fazendo parte inicialmente da mitologia e mais tarde da literatura épica, como um somatório de estórias baseadas em factos que realmente aconteceram e de herois que de facto existiram, mas que tinham sido ficcionalizados pela imaginação dos escritores e dos povos e apresentados em forma de epopeia.

Contudo, com advento do método científico iniciado na época do Renascimento Europeu, a história ganhou independência e estatuto próprio, como um ramo cientifico de conhecimento preocupado com a verificação e verdade dos factos históricos.

Até aos princípios do Séc. XIX, o objecto da história universal limitava-se ao estudo da Antiguidade Clássica (Grécia Antiga e Império Romano), Idade Média da Europa, Época do Renascimento e dos Descobrimentos, e Época Moderna numa perspectiva estritamente europeia, pois a referência a civilizações com quem os europeus entraram em contacto se limitava a factos históricos nos quais quais os povos europeus eram protagonistas.

2. África e História

Assim neste contexto, a história de África, por exemplo, era mais a história dos europeus em África do que a história dos povos africanos, e somente com referências marginais a estes. Embora o estudo da história da civilização muçulmana tivesse tradições muito antigas e ricas em África, tivesse um corpo de conhecimento bem estruturado e fosse mais completa nas sociedades árabes, esta não fazia parte ainda do corpo tradicional da disciplina de história universal, o mesmo acontecendo com a histórias milenares das civilizações do Levante, da Índia, do Sul da Ásia, e do Extremo Oriente.

Entretanto, a África a Sul do Sahara e a sua História continuaram, ao longo de milénios, envoltas numa núvem de mistério, que só começou a levantar-se com os Descobrimentos Portugueses, no Séc. XV, e de forma mais acelerada com o estabelecimento de colónias de captação de escravos no século seguinte. A ideia que os Europeus tinham de África é que era uma terra habitada não só por negros, mas por monstros (animais e humanos) fantasmagóricos que desafiavam a curiosidade racionalidade daqueles que se interessavam pelo seu estudo. O historiADOR Heródoto que viveu na Grécia Antiga (de 484 AC a 425 AC), e para muitos considerado com o "Pai da História" durante mais de um milénio, escreveu nas suas "Histórias" acerca dos Africanos que "os homens daquelas regiões são negros por causa do calor", e os "Etíopes da Líbia são entre todos os homens com os cabelos mais crespos", acrescentando ainda que "o sémen por eles ejaculado quando se unem às mulheres também não é branco... e sim negro como a sua tez (acontece o mesmo com o sémen dos Etíopes)". Para cimentar a ideia de que a África era uma parte diferente e remota do mundo de então, Heródoto escreveu ainda que "a Etiópia era a mais remota das regiões habitadas; lá existe muito ouro e há enormes elefantes, e todas as árvores são silvestres". O mito do Cabo Bojador e de que as águas do Mar Oceano se tornavam cada vez mais quentes à medida que se navegava para Sul, até ao ponto de se igualalem às chamas do inferno, foram para os primevos navegadores Portugueses uma barreira mental que atrasou um pouco o passo da descoberta do mundo. Estes são exemplos do ideário que se tinha da África a Sul do Sahara e dos seus povos, ideário que através de muitas formas se manteve em formas diferentes até aos nossos dias.

A primeira expansão no campo da história aconteceu nos princípios do Séc. XIX, quando o interesse sobre o estudo do Egipto Antigo (como resultado da campanha de Napoleão no Egipto) demonstrou que outras sociedades muito antigas tinham deixado um registo precioso e inegável da sua história, que se podiam estudar devidamente com o advento de grande progresso nos métodos de arqueologia.

3. História e Cultura Ocidental Judeo-Cristã

Contudo, apesar da crescente importância da história das civilizações do Levante, o monopólio da história judeu-cristã ocidental continuou a dominar o objecto da história até aos princípios do Séc. XX, quando passaram a incorporar o domínio da história universal o estudo e conhecimento do passado das civilizações muçulmanas e industânicas, e das civilizações chinesa, japonesa e coreana.

Até esta altura pouco se sabia sobre a história dos povos da Ásia Central e dos povos que habitaram a Índia, a Indochina e a Insulíndia. No hemisfério americano, por seu lado, assistia-se ao despertar do interesse pelas civilizações meso-americanas e andinas pré-colombianas, que sómente depois de algumas dificuldades passaram a ser reconhecidas e a incorporar os tratados de história universal.

3.1 Visão Eurocêntrica

Esta "resistência" eurocêntrica ampliou-se e aprofundou-se ainda mais devido em parte à falta de documentos escritos como únicas fontes válidas de história, e ao cepticismo académico europeu, que não viam a história oral como fonte genuína de conhecimento histórico. Esta posição eurocêntrica de que os povos indígenas de outras regiões do globo não tinham história manteve-se como pensamento corrente e premissa de investigação até aos meados do Séc. XX.

A reforçar a esta resistência eurocêntrica, temos ainda o facto de que as correntes da filosofia da história dos princípios e meados do Século XIX, defendida por pensadores como G. W. Hegel e Karl Marx, viam os povos não-europeus como irrelevantes ou secundários no processo histórico, já que os povos europeus eram tidos como os ponta de lança (leading edge) da humanidade e do progresso humano, e, para eles, o que importava era explicar a história universal (de toda a humanidade), não a local ou a referente a um período histórico, e muito menos estudar a história de povos e épocas que nem sequer era documentada.

O avanço tecnológico e cultural ocidental (europeu e americano) via assim as sociedades nativas e tradicionais, como grupos humanos que estavam ainda numa fase embrionária (infantil para alguns historiadores), e portanto sem história, tão bem caracterizados pelo mito do "Bom Selvagem" de Jean-Jacques Rousseau.

3.2 A Negação da História dos Povos Indígenas

Esta "negação" da história dos povos indígenas por parte dos historiadores ocidentais atingiu extremismo absurdo quando os arqueólogos europeus e americanos descobriram os grandes complexos de ruínas de sociedades antigas, como as ruínas das igrejas cópticas na Etiópia, do complexo de defesa do Zimbabwe na África Oriental, de Ang Kor Vat na Indochina, e de Teotihuacan no vale do México, e lhes atribuíram a alguns a sua génese a civilizações não nativas de origem caucasóide (para uns talvez cristã, como o Rei Salomão, a Raínha do Sabá, ou hamitas como sobreviventes da arca de Noé), que se tinham há muito estabelecido e mais tarde desaparecido na bruma do tempo, mas que eram efectivamente rejeitadas como se fosse obra possível de povos indígenas africanos, asiáticos ou meso-americanos colonizados.

4. História com Ciência Social

À medida que o método e o corpo da história se foi desenvolvendo e aperfeiçoando, e que o recurso a outras ciências sociais e a ciências auxiliares da história se tornaram rotina, em breve se tornou por demais evidente à comunidade mundial de historiadores que os povos indígenas tinham efectivamente uma história muito antiga e muito rica, e que o seu estudo requeria apenas novos métodos mais específicos e completos de investigação histórica e social. Contudo, esta admissão por parte da comunidade de historiadores académicos europeus e americanos não foi aceite prontamente sem um certo grau de resistência. Como exemplo, cito outra vez a resistência ao papel da história oral no conhecimento e compreensão da história dos povos não-europeus a quem a escrita não havia ainda chegado.

Hoje, volvido que é mais de meio século, o conhecimento e estudo da história cobre todas as civilizações e povos que tenham existido em qualquer parte do mundo em todos os períodos até ao tempo presente, é verdadeiramente pujante completando dia-a-dia este imenso puzzle que é o passado da espécie humana.

5. O Futuro da História

Com os avanços registados nos métodos de investigação histórica e social, e na partilha da experiência de pesquisa história à escalas individual, local, regional e global, a história não tem afinal um fim, sendo apenas um princípio para melhor compreensão entre os povos; a história tem assim um futuro brilhante e imensamente rico para a humanidade; contudo, cabe-nos ainda dizer, o melhor da história ainda está para vir.

1 Comments:

Blogger Letinha said...

Adoro História!
E não entendo como há alunos que não gostam desta disciplina!
Talvez porque os professores de História não foram bem escolhidos e se limitam a "despejar" a matéria, que se torna assim incompreendida!

Uma definição de História:
"É uma sucessão de sucessos que se sucedem sucessivamente sem cessar!"
(brincadeira!)

Letinha

4:54 AM  

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