4 - Um Pouco de Historiografia

Name:
Location: Cranbrook, Colômbia Britânica, Canada

Helder Fernando de Pinto Correia Ponte, também conhecido por Xinguila nos seus anos de juventude em Luanda, Angola, nasceu em Maquela do Zombo, Uíge, Angola, em 1950. Viveu a sua meninice na Roça Novo Fratel (Serra da Canda) e na Vila da Damba (Uíge), e a sua juventude em Luanda e Cabinda. Frequentou os liceus Paulo Dias de Novais e Salvador Correia, e o Curso Superior de Economia da Universidade de Luanda. Cumpriu serviço militar como oficial miliciano do Serviço de Intendência (logística) do Exército Português em Luanda e Cabinda. Deixou Angola em Novembro de 1975 e emigrou para o Canadá em 1977, onde vive com a sua esposa Estela (Princesa do Huambo) e filho Marco Alexandre. Foi gestor de um grupo de empresas de propriedade dos Índios Kootenay, na Colômbia Britânica, no sopé oeste das Montanhas Rochosas Canadianas. Gosta da leitura e do estudo, e adora escrever sobre a História de Angola, de África e do Atlântico Sul, com ênfase na Escravatura, sobre os quais tem uma biblioteca pessoal extensa.

Tuesday, May 30, 2006

4.10 África, Um Continente Sem História?

África - um continente sem história?

 

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A omissão de África pelos historiadores não resultou somente do imperativo colonial de denegrir os povos africanos, nem mesmo porque os povos não usavam escrita antes do período colonial em grande parte de África. Esta negligência foi baseada numa presunção acerca da história e numa hipótese falsa acerca de África. Mesmo os que se opuseram ao estudo e ensino da história de África não negam que a África tinha história. A razão desta prática nasceu da posição de Hegel de que a história se procupa fundamentalmente com a explicação da evolução política da espécie humana. Hegel argumentou que os reinos africanos do seu tempo representavam o estado original de evolução política da humanidade, atrazados em relação às nações mais avançadas, e que a ausência da evolução política desses reinos os colocava portanto atrás ou mesmo fora da história. Para Hegel, o que importava era o estudo da história das sociedades avançadas, já que as atrasadas, preconizava ele, seguiriam uma trajectória semelhante.

África - Berço da Humanidade
As Antigas Civilizações do Sahara
A Civilização Egípcia
Os Reinos de Kush, Meroé e Napata (Núbia)
O Reino de Axum na Etiópia
Os Berberes do Norte de África
O Empório de Cartago
O Magrebe sob Domínio Romano
A África de Ptolomeu
As Viagens de Ibn Batuta
A Lenda do Preste João
A Relação do Congo de Duarte Lopes e Fillipo Pigaffetta
As Aventuras Extraordinárias de André Battel
As Descrições de O. Dapper e do Abade XYZ
A Descrição Histórica dos Reinos de Congo Matamba e Angola do Padre Cavazzi
O Mito do Bom Selvagem de Jean Jacques Rousseau
A Abolição do Tráfico de Escravos e da Escravatura
As Viagens de Exploração ao Interior de África
David Livingstone e o Despertar do Interesse Europeu sobre África
Raça e História - Franz Boas e Claude Levi-Strauss
A Negritude de Leopold Senghor e de Aimé Cesaire
Frantz Fanon e o Colonialismo - Os Condenados da Terra
A Obra de Basil Davidson na Divulgação da História da África Antiga
As Primeiras Histórias de África Escritas Por Estudiosos Europeus - Roland Oliver e John Fage
A Pré-História de África de J. Desmond Clark
A Origem Africana da Humanidade de Cheikh Anta Diop
Literatura de Raíz Africana
Jan Vansina e a Etno-História
Os Reinos da Savana de Jan Vansina
A História Geral da África editada pela UNESCO
Joseph Miller e a História do Tráfico de Escravos do Atlântico

4.11 Angola na História do Mundo

Foram os escravos de Angola que construiram um mundo novo no Novo Mundo



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Amigo Leitor: Este Capítulo Ainda Está Em Construção 



Mencionei atrás nesta Viagem que o estudo da História de Angola não ocorre num vácuo, ou numa proveta de laboratório, nem se limita ao que aconteceu em Angola sómente. O seu estudo tem que ter em atenção o que se passou ou passava nos países (ou populações) mais chegados a Angola ao longo dos tempos. Precisamos assim de relacionar Angola com o resto do mundo, e investigar as influências que recebeu do exterior e a influência que exerceu nos povos da África Central, no Atlântico Sul, nas Américas, na Europa, e mesmo no mundo; em poucas palavras, é necessário enquadrar a História de Angola na História Universal.

Assim é importante relacionar a História de Angola com a história dos povos Bantos que cedo se estabeleceram no que hoje chamamos território de Angola; com a história de Portugal como potência colonial de cinco séculos; com a história do Brasil, nação irmã e cliente mais importante na parceria do tráfico de escravos - onde hoje há mais descendentes de africanos do que africanos em Angola; e com a própria história geral de África - seja de povos próximo como os do Congo ou de S. Tomé, ou de sociedades ou culturas mais distantes no espaço e no tempo, como o a civilização Suahili na costa oriental de África ou mesmo da República da África do Sul nos tempos mais recentes.

É ainda necessário relacionar a História de Angola com a história atlântica e de todos os seus povos ribeirinhos, como a América Latina (antigas colónias de Espanha e Portugal), as Antilhas, a Holanda, a Inglaterra, a França, e mesmo os Estados Unidos da América e até o Canadá; de realçar o papel do tráfico de escravos angolanos na economia mundial do século XVI ao século XIX.

É bom lembrar que desde a sua imersão na economia e história mundiais nos finais do Século XV, os povos de Angola, embora hoje um pouco arredados dos centros de decisão mundial, estiveram no cerne de três grandes desenvolvimentos da história da humanidade nos últimos quinhentos anos. A saber,

a) Os escravos levados de Angola e Congo aguentaram durante mais de 350 anos a carga mais difícil na construção do Novo Mundo (Brasil, Antilhas e Estados Unidos) e alimentaram a riqueza económica e preponderância política da Europa durante o mesmo período;

b) As disputas territoriais entre Portugal (Lunda, Angola) e Leopoldo II da Bélgica (Estado Livre do Congo) foram o pomo de discórdia que levou à realização da Conferência de Berlim onde a consequente partilha de África teve lugar e onde nasceram os impérios coloniais europeus que haviam de perdurar cerca de um século; e,

c) Foram nas chanas das Terras do Fim-do-Mundo em Angola (Cuito Cuanavale) que se travaram as batalhas finais mais decisivas da Guerra Fria tiveram lugar, o que eventualmente resultou no desmoronar dos bastiões brancos em África (Rodésia, Sudoeste Africano e o regime de apartheid na República da África do Sul), e na queda final da experência marxista-leninista de 70 anos da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas na Europa Oriental e Ásia Central.

Assim, vamos rever em mais detalhe estes três desenvolvimentos de forma a melhor podermos compreender o papel de Angola na história da humanidade.

A - Angola e a Ascensão da Hegemonia Europeia

Os Escravos de Angola no Ciclo do Açúcar do Brasil no Século XVII

Como bem disse o Padre António Vieira em meados dos Séc. XVII na sua campanha de angariar suporte para a retomada pelos Portugueses das fontes de escravos em África Central (São Tomé, Loango, Cabinda, Malembo, Soio, Luanda e Benguela)"Sem Negros não há Pernambuco e sem Angola não há Negros!".

Os escravos de Angola foram o fulcro que sustentou a economia açucareira do Brasil no Século XVII, a mineira no Século XVIII, e a cafeeira até aos fins do Século XIX. Durante estes três séculos o Brasil desenvolveu um papel fundamental no quadro da economia mundial, ao mesmo tempo que o trabalho do escravo Angolano era o agente principal da criação da riqueza no Brasil e da sua contribuição para a economia mundial.

Em termos estatísticos muito sumários, estima-se que durante o período do tráfico de escravos do Atlântico (entre 1519 e 1867), tenham sido levados de Angola e da Bacia do Congo mais the 5 milhões de pessoas, a uma média mensal de cerca de 1.250 (ou média diária de cerca de 40 escravos), perfazendo cerca de 44% da exportação de escravos de África. Deste número (14.000 por ano) cerca de 10.000 em média chegava anualmente ao Brasil. Em termos do total para o tráfico de escravos do Atlântico, de 1519 a 1867, 11,6 milhões de homens, mulheres e crianças foram levadas do interior de África para as Américas, 3,3 milhões morreram no percurso entre a sua região de origem e o porto negreiro na costa, e 1,5 milhões morreram na Passagem do Meio (travessia do Atlântico). O número total de pessoas escravizadas e vendidas ou que morreram no tráfico do Atlântico sómente, excluindo o número de escravos exportados para o Norte de África e estados árabes e o número de escravos exportados para o Irão, Índia, e para o resto da Ásia, estima-se em mais de 15 milhões.

Ainda que em forma muito sumária, penso que é útil delinear aqui a estrutura da economia mundial dos séculos XVII e XVIII e o papel que Angola e o Brasil desempenharam na mesma.

Com a derrota da Armada Invencível da União Ibérica no Canal da Mancha em 1588, Portugal perdeu grande parte da sua marinha de guerra e mercante e com elas o seu primeiro império colonial - a Índia. Para Portugal havia assim que reagrupar depressa e encontrar outra fonte de riqueza essencial para o sustento da sua economia, o que se veio a concretizar com a rápida expansão da cultura do açúcar (a famosa cana mélica do Levante) no Brasil. Nasceu assim o segundo império português - o Brasil - que havia de perdurar até aos princípios do Século XIX.

Os Portugueses foram os primeiros a estabelecer colónias com base agrícola primeiro em África (São Tomé) e depois nas Américas (Brasil); contudo com uma população relativamente escassa, se a compararmos com a da Espanha, Inglaterra e França, os Portugueses depressa concluiram que a empresa da colónia agrícola de plantação era de facto muito rentável, mas que requeria outra fonte de mão-de-obra que não colonos portugueses, descobrindo assim quanto papel fundamental poderia o escravo africano desempenhar neste novo sistema económico mundial.

Contudo, vazios de homens e de capitais, de equipamento e de meios de transporte, os Portugueses tiveram que financiar a empresa do açúcar brasileiro com empréstimos concedidos por banqueiros e comerciantes Holandeses, para a compra de equipamento produzido na Holanda, ao mesmo tempo que o transporte do açúcar brasileiro para a Europa e dos escravos de África para o Brasil eram feitos também em navios holandeses.

O influxo de capital para os Países-Baixos foi por sua vez sustentado em grande parte por Judeus (Cristãos-Novos) que tinham sido expulsos da Península Ibérica e que se haviam refugiado nos Países-Baixos. Porém, é importante relembrar que desde os primórdios da colonização das Américas os Holandeses adoptaram uma stratégia económica com base no comércio ultramarino. Com a fundação das companhias de comércio ultramarino (as percursoras das actuais sociedades anónimas), os Holandeses desde a partida asseguraram o monopólio do comércio com a Ásia, a África e as Américas. A sua frota marítima era constituída por navios de maior tonelagem e de tripulação reduzida, o que rendia melhores lucros, e nos finais do Século XVII a sua frota mercante era maior que as frotas da Inglaterra, da França, da Alemanha, e de Portugal combinadas.

Devemos aqui relembrar que, como resultado do Tratado de Tordesilhas firmado com a Espanha em 1496, os dois povos ibéricos dividiram o mundo entre si, cabendo aos Portugueses a África com o seu manancial quase infinito de mão-de-obra, e a Índia com possibilidades infinitas de comércio. Os Espanhóis, por seu lado, ficaram com os ricos depósitos de ouro e prata nas Américas e com o comércio com as Filipinas no Extremo Oriente; contudo sem uma oferta abundante, rentável e segura de mão-de-obra, que podia ser fornecida apenas pelos Portugueses.

No que respeita à oferta de mão-de-obra, os Portugueses usaram escravos africanos primeiro na produção de açúcar na Ilha da Madeira, e depois mais tarde na Ilha de São Tomé, onde ganharam a experiência na captura, transporte e venda de escravos africanos para regiões distantes. Experiência esta que se tornou valiosa nas primeiras "encomiendas" que Filipe II de Espanha (I de Portugal) conferiu em 1602 para as minas de ouro no México, estabelecendo-se assim o que mais tarde se veio a designar pelo tráfico de escravos do Atlântico, e no qual Portugal desenvolveu um papel importante na primeira fase do comércio negreiro, e daí, o seu avanço original no comércio pioneiro de Africanos através do Atlântico.

Pela sua oportunidade e importância, transcrevo a seguir um trecho da "Formação Económica do Brasil", páginas 10 e 11, do Professor Celso Furtado, recentemente falecido, cuja obra é sem dúvida para mim a mais importante de todos os economistas de língua portuguesa:

"A partir da metade do Século XVI a produção portuguesa de açúcar passa a ser mais e mais uma empresa em comum com os flamengos, inicialmente representados pelos interesses de Antuérpia e em seguida pelos de Amsterdã. Os flamengos recolhiam o produto em Lisboa, refinavam-no e faziam a distribuição por toda a Europa, particularmente o Báltico, a França e a Inglaterra.

A contribuição dos flamengos - particularmente dos holandeses - para a grande expansão do mercado do açúcar, na segunda metade do Século XVI, constitui um fator fundamental do êxito da colonização do Brasil. Especializados no comércio intra-europeu, grande parte do qual financiavam, os holandeses eram nessa epoca o único povo que dispunha de suficiente organização comercial para criar um mercado de grandes dimensões para um produto práticamente, como era o açúcar.

... E não sómente com a sua experiência comercial contribuíram os holandeses. Parte substancial dos capitais requeridos pela empresa açucareira viera dos Países-Baixos. Existem indícios abundantes de que os capitalistas holandeses não se limitaram a financiar a refinação e comercialização do produto. Tudo indica que os capitais flamengos participaram no financiamento das instalações produtivas no Brasil bem como no da importação da mão-de-obra escrava.

... Se se tem em conta que os holandeses controlavam o transporte (inclusive parte do transporte entre o Brasil e Portugal), a refinação e a comercialização do produto depreende-se que o negócio do açúcar era na realidade mais deles do que dos portugueses. Somente os lucros da refinação alcançavam aproximadamente a terça parte do valor do açúcar em bruto
."

Animados com o êxito da Companhia das Índias Orientais na Insulíndia e com a derrota dos Portugueses na Índia e a sua fraqueza militar e económica no Brasil e em África, os Holandeses depressa adoptaram a mesma solução para o domínio do Atlântico Sul, o que levou primeiro ao estabelecimento da Companhia Privilegiada da Índias Ocidentais em 1621 e à conquista de Salvador da Bahia em 1624 (retomada pelos Portugueses e Espanhois no ano seguinte), de Recife (na Capitania de Pernambuco) em 1630, e poucos anos depois a costa entre Sergipe e o Maranhão.

Cientes da necessidade de assegurar uma oferta abundante, segura e barata de esravos africanos, os Holandeses tomaram aos Portugueses em 1637 o Forte de São Jorge da Mina no Golfo da Guiné, e mais tarde em 1641 a Ilha de São Tomé e a colónia de Angola (Luanda e Benguela), que eram já os principais portos negreiros fornecedores de escravos na costa africana a sul do equador para a indústria do açúcar brasileira.

Contudo, os escravos africanos não eram só essenciais à produção de açúcar do Brasil; eles eram também imprescindíveis às minas de prata do Perú e da Bolívia (a serra de prata de Potosi), e mesmo à produção de ouro no México. Em termos muito sumários as minas da América Espanhola absorveram durante o período do tráfico de escravos do Atlântico mais de 2,6 milhões de africanos (à razão de cerca de 7.500 por ano), o que levou a União Ibérica (Espanha e Portugal) a concentrar os seus esforços na reconquista imediata da Bahia, Pernambuco e Maranhão. Este esforço veio a materializar-se com a expulsão definitiva dos Holandeses de Angola e São Tomé em 1648 e do Brasil em 1654, e a consequente restauração do domínio português (mais própriamente, o domínio brasileiro) do Atlântico Sul.

A Ascensão da Economia de Plantação nas Antilhas

Cientes do seu domínio da economia açucareira, os Holandeses deixaram o Brasil mas não sem levarem consigo a tecnologia, o capital, o equipamento, e as fontes de escravos africanos, e mudaram-se para as Antilhas, onde depressa estabeleceram plantações que em poucos anos suplantaram o volume de produção do açúcar brasileiro, o que veio a resultar numa baixa munidial de preços do açúcar muito longa que se traduziu numa crise económica muito longa e profunda da economia açúcareira brasileira da qual jamais se haveria de recuperar. De facto, com fontes de capital e mão-de-obra asseguradas, com maquinaria e equipamento novo e mais moderno, e com custos de transporte do açúcar mais baixos devido à maior proximidade entre as regiões produtoras (Antilhas) e as de consumo (Europa), os Holandeses depressa tomaram o comando da produção e comércio de açúcar, e com isto despertaram o interesse da Inglaterra e da França para fazerem o mesmo, deixando os Portugueses no Brasil na difícil posição de terem de competir num mercado em que os preços estavam numa baixa de longa duração, quando os seus custos de produção continuavam a cresecer.

Seguindo o exemplo dos Holandeses, em breve os Ingleses e Franceses tomaram aos Espanhois as ilhas mais importantes nas Antilhas, com a excepção das ilhas de Cuba e Porto Rico, estabelecendo promissoras colónias de plantação de açúcar no Haiti (França), na Jamaica e em Barbados (Inglaterra).

Com um excedente de população relativamente grande, a Inglaterra depressa copiou e expandiu o modelo de plantação de açúcar levado pelos Holandeses para as Antilhas, que passou a incluir também plantações de tabaco e anil nas ilhas, e de algodão nas Colónias Americanas mais meridionais (Virginia, as Carolinas e a Geórgia) no continente americano.

Antes de recorrer ao tráfico de escravos africanos através do Atlântico, os Ingleses usaram primeiro o excedente da sua população das suas Ilhas Britânicas com fonte principal de mão-de-obra para as suas novas colónias nas Antilhas e na América. Como resultado das profundas transformações económicas na agricultura inglesa (o regime de propriedade cercada (Enclosures) para a criação de grandes rebanhos de carneiros para a produção industrial de lanifícios nas cidades), grande número de trabalhadores da terra viram-se sem possibilidades de sobrevivência nos campos, não tendo outro recurso senão tentarem melhor sorte nas cidades, para onde emigravam em grande número, e oferecerem a sua força de trabalho no Novo Mundo através de contratos de regime de servidão temporária (de cinco a sete anos), a troco do pagamento da passagem, comida e dormida durante o termo do contrato, e no final deste, um pedaço de terra no Novo Mundo, ou um pequeno montante em dinheiro, que podiam investir eles próprios em pequenas fazendas ou comércio.

É de salientar aqui que as condições de trabalho para os trabalhadores ingleses em regime de servidão temporária nas Antilhas e nas Colónias Americanas não eram melhores que as do escravo africano, na medida em que o trabalhador em regime de servidão temporária era mais barato que o escravo de África, e a sua oferta em número era muito maior que a procura. Porém, devido à concorrência militar entre a Inglaterra e a França no Novo Mundo, este excesso de população começou a ser usado também na guarnição de fortes espalhados pelo mundo e no número crescente de navios de guerra necessários para manter a sua hegemonia, em vez de continuar a ser canalizada para a economia de plantação. Esta redução emergente da oferta de mão-de-obra para as planatações nas Antilhas e na América levou a Inglaterra e a França a embarcar também no negócio do tráfico de escravos africanos em grande escala.


O Desenvolvimento das Colónias Inglesas na América

Com o rápido desenvolvimento económico e populacional das Antilhas, os Ingleses encontraram nas colónias da Nova Inglaterra (Maine, New Hampshire, Massachussets, Rhode Island, New York, Pennsylvania, Delaware e Maryland), a região ideal para a produção de artigos de consumo (cereais, batata, madeira, vestuário, ferramentas, equipamento, navios e outros bens de consumo e capital) para consumo corrente nas Antilhas, a um preço mais baixo que os produtos produzidos na Europa, já que os custos de mão-de-obra eram mais baixos na América e o custo do frete marítimo era muito menor, devido a maior proximidade da América em relação às Antilhas, do que a distância longa e perigosa entre as Antilhas e a Europa. Da interacção de todos estes factores resultou no rápido desenvolvimento económico e populacional das Colónias Americanas, que cedo se estabeleceram com o mercado fornecedor da maioria dos bens necessários às economias de plantação nas Antilhas e as colónias emergentes no centro e sul do continente norte-americano. Do mesmo modo, as colónias do Sul (Virginia, Carolinas e Geórgia) cedo se especializaram na produção de tabaco, arroz, e, principalmente, algodão, que em breves anos se tornaram a principal região produtora de algodão e abastecedora das economias emergentes no Novo Mundo, em África, e principalmente na Europa.


O Ciclo do Ouro no Brasil

A descoberta de ouro no Rio das Velhas e em Vila Rica em 1702 e de diamantes em Minas Gerais no Brasil anos mais tarde salvanguardou a independência política de Portugal por mais de um século, ao mesmo tempo que, irónicamente, relegou a economia lusitana para um estado de subdesenvolvimento crónico que havia de perdurar quase três séculos. Isto porque os rendimentos do "quinto" arrecadado pela corôa portuguesa do ouro do Brasil foram suficientemente abundantes para Portugal poder continuar como estado independente, ao mesmo tempo que enfeudaram a economia portuguesa ao domínio da inglesa, através dos tratados de 1654 e de Methuen em 1703, pelos quais o suporte militar inglês era garantido a custo da ausência completa de qualquer indústria agrícola ou transformadora de relevo em Portugal e sujeição absoluta à indústria inglesa.

Assim, o ouro do Brasil não parava sequer em Lisboa; era imediatamente re-exportado como pagamento para as importações inglesas, ao passo que o papel de Portugal na economia europeia era reduzido à produção de vinho do Porto para exportação, cuja indústria e comércio eram por sua vez controlados por mercadores ingleses. Por outro lado, o que restava da riqueza do ouro foi aplicada em Portugal em investimentos supéfluos e retrógrados como o Convento de Mafra, em vez de serem canalizados para investimentos na agricultura, na indústria ou na frota marítima, que haveriam de valorizar a economia.

Para a Inglaterra, os lucros imensos das exportações para Portugal foram um factor chave para a industrialização inglesa, pois permitiram uma acumulação de capital muito rápida e extensa, o que constituiu o impulso inicial para a Revolução Industrial Inglesa já nos princípios do Século XIX.

O Escravo Angolano na Economia Mineira do Brasil

Ainda em desenvolvimento

B - O Papel de Angola na Corrida à África e no Estabelecimento de Impérios Colonialiais

Ainda em desenvolvimento

Introdução - Razões históricas da Presença portuguesa em África

Angola e a Conferência de Berlim


C - Angola e a Africanização da África Austral

Ainda em desenvolvimento

A mais longa guerra de libertação nacional em África

O Regresso das Caravelas

Angola Lugar Quente da Guerra Fria

O Fim da Rodésia, do Sudoeste Africano e do Apartheid na África do Sul
Numa época mais recente, podemos ainda relembrar o exemplo da relevância do petróleo de Angola na economia mundial do Séc. XXI.

Encontrarás nesta Viagem algumas vinhetas cujos temas não aparentam uma ligação directa ou imediata com a História de Angola; contudo elas são importantes para uma melhor compreensão do que pretendo expôr. Estas vinhetas expõem o contexto regional, global e temporal em que a História de Angola se desenrolou, ajudando assim a enriquecer a nossa compreensão dos factores externos mais relevantes que a moldaram.

Se quiseres aprofundar o estudo desta época tão importante para a hegemonia europeia da economia mundial, sugiro a consulta dos textos do Professor Celso Furtado "Teoria e Política do Desenvolvimento Económico", edição portuguesa das Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1971, o clássico "Formação Económica do Brasil" 17a. edição da Editora Nacional, São Paulo, 1980, e "A Economia Colonial no Brasil dos Séculos XVI e XVII", publicado pela Editora Hucitec, São Paulo, 2000;

Recomendo ainda a consulta da obra extensa do Professor Charles Ralph Boxer, também recentemente falecido, da qual realço o clássico "The Portuguese Seaborn Empire 1415 - 1825" originalmente publicado em 1969, e recentemente publicado pela editora Carcanet em cooperação com a Fundação Calouste Gulbenkian e a Comissão Nacionalpara as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses (esta obra é talvez a mais idónea análise da expansão portuguesa e está traduzida em Português e foi publicada no Brasil e em Portugal); a obra "Salvador de Sá and the Struggle for Brazil and Angola 1602 - 1686", publicada pela University of London e a Athlon Press, London, 1952; e a obra "The Golden Age of Brazil - Growing Pains of a Colonial Society 1695 - 1750", publicada pela St. Martin's Press, New York, 1995.

Sugiro ainda a consulta de dois estudos muito bons de história económica: a obra clássica de J. Lúcio de Azevedo "Épocas de Portugal Económico", 3a. edição da Livraria Clássica Editora, Lisboa, 1973; e a obra de Caio Prado Júnior "Histórica Económica do Brasil", publicado pela Editora Brasiliense, 46a. reimpressão, São Paulo, 2004.

4.8 Caleidoscópio da História...


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Em história, desde o acontecimento do facto histórico até à sua compreensão final pelo leitor ou estudioso, occorre um process análogo à passagem de uma imagem através de uma cadeia de várias lentes, em que cada uma distorce (ou corrige) um pouco a imagem recebida da lente anterior, contribuindo assim cumulativamente para uma distorção (ou correcção) um tanto maior ao fim da cadeia de lentes.

Na verdade o facto histórico acontece, é registado, descrito ou narrado, é depois estudado pelo historiador, que o analiza, interpreta e sintetiza através de um critério científico, e é então comunicado por escrito ou por outros meios audio-visuais ao leitor ou estudioso, que nesse passo também o critica.

 

1. Óptica da História

Contudo, não pára aqui o processo de distorção de informação, pois cada leitor, como consumidor final da informação, compreende o que lê numa forma diferente de outro leitor. Assim, o mesmo facto histórico, com a mesma explicação dada pelo mesmo historiador pode ser compreendido muito diferentemente por pessoas diferentes, ou até pela mesma pessoa em tempos diferentes. Isto leva-nos a ponderar um pouco na necessidade e importância de sabermos as maneiras mais correctas de aprender e ensinar história.

Todos sabemos ainda que o mesmo facto histórico é estudado, interpretado e narrado de formas diferentes por historiadores diferentes; Como exemplo, podemos focar a nossa atenção na restauração de Angola levada a cabo pela esquadra brasileira comandada por Salvador Correia de Sá em 1648, que é interpretada de maneira claramente diferente por historiadores angolanos, portugueses, holandeses e brasileiros, apesar de todos se estarem a debruçar ao mesmo facto histórico.

 

2. Momentos em História

Num horizonte temporal (momentos), temos que ter em atenção que no estudo da história encontramos sempre três momentos (ou tempos) diferentes, a saber:

a) O momento ou época em que o facto histórico aconteceu;
b) o momento ou época em que o historiador o estudou e descreveu; e,
c) O momento ou época em que o leitor o leu ou o estudioso aprendeu

Atendendo à grande probabilidade de cada um desses momentos ter acontecido em épocas diferentes (separados por milhares de anos em alguns casos), com perspectivas diferentes, temos que concluir que cada momento ajuda a colorir um pouco mais o já maravilhoso caleidoscópio da história.

 

3. História e Media

Por outro lado, o meio de comunicação (medium, plural media) pelo qual o conhecimento do objecto histórico é transmitido influencia sobremaneira como a história é compreendida por aquele que recebe informação.

Esta comunicação (como processo ou meio de transmissão de informação), seja na forma da palavra escrita ou imagem impressa, do som ouvido através da rádio, ou da imagem e som através do cinema e da televisão, e mais recentemente na Information Age, através da internet, determina sobremaneira como aprendemos e como compreendemos. Sabemos assim, por exemplo e sem qualquer dúvida que os filmes de Cowboys e Índios dão-nos uma visão limitada e até errada do que foi a história da ocupação da América por colonos europeus; contudo o que aprendemos com John Wayne é difícil de esquecer ou "descolar" e aceitar o que realmente aconteceu.

 

3.1 Processo de Comunicação

Pela ajuda que nos pode dar em melhor compreender os processos de criação, transmissão e recepção de informação, é importante rever alguns aspectos fundamentais de teoria da comunicação. Essencialmente, cinco elementos fundamentais perfazem o processo de comunicação; a saber,

(a) o Emissor - aquele que emite a informação (aquele que a produz). Por exemplo, eu escrevo estas linhas;

(b) Receptor - aquele que a recebe (aquele que a consome); tu lês estas linhas;

(c) o Datum (Data, no plural) - a forma que a comunicação toma (a letra, o número, o sinal binário dígito processado por ambos computadores, a linguagem);

(d) o Meio (Medium) - é o meio de transmissão (aquilo que a transmite), que neste caso é a Internet; e,

(e) a Mensagem - é aquilo que escrevo, o conteúdo da mensagem.

Deste modo e usando o livro como exemplo, o escritor produz informação usando letras e números como caracteres que são impressas numa página de livro numa linguagem que o leitor pode compreender através da sua leitura.

Convém aqui relembrar que a comunicação correcta de uma mensagem (ou de informação) só acontece quando todos os componentes do processo de comunicação desempenham o seu papel correctamente e em sincronia; e que, implicitamente, qualquer mal funcionamento em qualquer componente do processo de comunicação pode distorcer a mensagem ou mesmo impossibilitar a sua transmissão.

 

3.2 A Galáxia de Gutenberg

Como o pensador Canadiano Marshall McLuhan (1911 - 1980) afirmou na sua obra "The Gutenberg Galaxy", University of Toronto Press, Toronto, 1962, "the medium is the message" (em português, "o meio de comunicação é a mensagem"), o que significa que mais do que o conteúdo de uma comunicação, a sua forma (o veículo que é usado na transmissão da informação) é a determinante mais importante da mensagem.

 

3.2.1 Teoria da Comunicação

Para McLuhan, o "meio" (medium, plural media) é qualquer coisa que estende (torna mais extensível) um ou mais orgãos do corpo humano e assim a própria capacidade humana. Por exemplo, o carro pode ser entendido como uma extensão dos pés na medida em que nos permite "andar" mais depressa e "andar" grandes distâncias; o telefone como extensão da boca e do ouvido na medida em que nos permite manter uma conversa (falar e ouvir) com alguém à distância; ou o microscópio é uma extensão dos olhos para vermos em maior detalhe.

Este processo de "extensão do ser humano e das suas capacidades" é realizado através dos melhoramentos contínuos na técnica e nas tecnologias specíficas às diversas actividades humanas, e à medida que novas extensões são descobertas e usadas, as extensões modernas substituem as antigas, tornando-as ultrapassadas e obsoletas. Assim, se a analizarmos ao longo do tempo, a tecnologia não é senão o processo histórico contínuo de extensão da capacidade humana. Como exemplo ao longo dos tempos, sabemos que a viagem de avião substituíu a viagem de carro ou de barco, e estas por sua vez a viagem a cavalo ou a pé; o "word processor" subsituiu a dactilografia, que por sua vez substituiu a caligrafia e a caneta, e a internet substituíu não só o jornal, o livro, a carta, a biblioteca, como também o nosso círculo de amigos "reais" com novos amigos "virtuais" com quem lidamos diáriamente.

 

3.2.2 The Medium is the Message

A experiência que uma extensão (tecnologia) nova nos dá é em si diferente de todas as experiências que tivémos com extensões anteriores; em geral a experiência com uma extensão nova é mais complexa e, ao mesmo tempo, mais intensa, que a experiência com a extensão (tecnologia) anterior.

Usando a internet como exemplo, a maioria dos angolanos na diáspora tem amigos virtuais no forum da Sanzalangola que nunca vimos ou falámos ao real, mas que na verdade os temos como muito queridos e muito chegados, e pelos quais até sentimos muito, mas de uma maneira um pouco diferente dos amigos "reais" tradicionais.

 

3.2.3 Aldeia Global

Assim, o conceito que nós (sanzaleiros) tínhamos de "amizade" anteriormente ao advento do uso da SanzalAngola (internet) foi alterado (talvez alargado) pela possibilidade que a mesma nos dá agora de mantermos relações íntimas, profundas e intensas com pessoas "virtuais" com quem nunca nos encontrámos ao vivo. Desta intensificação em como nos ligamos em tempo real com muitas outras pessoas no mundo com os mesmos interesses como nós, e mesmo até em como nos sentimos no mundo, nasceu o conceito de "aldeia global" (global village), termo também cunhado por McLuhan, que também concluiu que a quantidade de informação que a media nos bombardeia (sujeita) diáriamente "faz-nos hoje viver vários séculos numa década".

 

3.2.4 Meios de Comunicação e História

Também na aprendizagem da história é importante termos em atenção a influência que os meios de comunicação (media) têm na própria história. Assim, a história aprendida (a maneira como "retemos" história) através da leitura de um livro de texto ou de banda desenhada é diferente daquela que aprendemos através da audição de um programa de rádio, ou mesmo se assistirmos a um filme no cinema ou documentário na televisão.

Até hà relativamente pouco tempo, a história que aprendíamos era só através de livros de texto com (relativamente) poucas ilustrações; contudo, com o advento da rádio, e principalmente do cinema e da televisão, o documentário (de audio e vídeo) vai gradualmente substituindo o livro como meio de comunicação preferido para a transferência de conhecimento. A experiência de ler um livro é diferente de ouvir um programa de radio ou o contento de um CD, e ainda mais diferente se a compararmos com a experiência de ver um filme ou um programa na televisão. Sem dúvida que a leitura de um livro requer uma actividade mental crítica maior por parte do leitor; ao passo que ver um filme ou um programa de televisão, o espectador é mais passivo, actuando mais como um consumidor de informação; mas em contrapartida, a quantidade de informação no filme é mais intensa e ao mesmo tempo mais extensa que no livro, o que requer um esforço de memorização maior. Assim, retemos melhor em memória uma imagem com som do que um parágrafo de texto, e daí a popularização do vídeo em detrimento da palavra escrita.

 

3.2.5 História e Internet

Cabe-nos finalmente agora rever o papel da internet na aprendizagem da história. Como meio de comunicação para a história a internet difere substancialmente dos outros meios de comunicação na quantidade de informação disponível e na capacidade de conduzir pesquisa numa dimensão muito maior. O internauta tem ao seu alcance imediato, sem ter que saír da sua mesa de trabalho, e a um custo muito baixo, uma quantidade imensa de informação (bibliotecas inteiras em linha). O desafio está mais em como filtrar essa quantidade infinita de informação e só reter o que é relevante à pesquisa do investigador.

A internet, devido à sua natureza universal, é também uma fonte que é mais internacional do que nacional, apesar de não deixar de cobrir perspectivas locais, regionais ou nacionais. Ainda devido à simplicidade de se colocar informação na internet, temos que ser mais exigentes quanto aos padrões (standards) de qualidade e de verificação das fontes de referência, pois há também uma quantidade infinita de informação que não passa através de qualquer processo de controle de qualidade razoável. 

Assim, "mais" informação não quer dizer necessáriamente que é melhor que "melhor" informação, pois na internet encontra-se muito material muito bom, mas muito mais menos bom.

Temos assim que consoante o meio de comunicação utilizado, compreendemos e sentimos a história que aprendemos, de forma diferente.

 

 

4.7 Escrever História Para Quem?


 

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Para além da subjectividade do historiador importa ainda considerar para quem ele (ou ela) escreve a história. A história não se escreve num vácuo, nem para ninguém em particular ou mesmo nem para todos em geral.

O historiador na sua tarefa de comunicar história preocupa-se também com quem vai ler o que escreveu, com a audiência específica que o vai ler. Assim, encontramos trabalhos superficiais de divulgação histórica cujo alvo de leitura é o público em geral, ou trabalhos profundos de investigação histórica cujo universo de leitores é um número escasso de académicos vivendo em torres de marfim.

No que respeita à história de Angola e de África, a história é também para quem a pode ler. Quero com isto dizer que muitas obras de história sobre povos ou estados africanos foram escritas em línguas estrangeiras e não foram ainda traduzidas para línguas locais, o que nos leva a concluir que essas obras não eram inicialmente destinadas a Africanos, mas a outros leitores, incluindo estudiosos das potências coloniais ou investigadores em universidades estrangeiras. No caso de Angola, a maior parte das obras importantes são em português, se bem que um número crescente de obras escritas em Inglês ainda não tenham sido traduzidas. Podemos assim dizer que até muito recentemente, a maioria das "Histórias de Angola" não foram escritas para Angolanos.


1. "Histórias de Angola"

Mais ainda, no caso pertinente da História de Angola, encontramos algumas "Histórias de Angola" escritas para angolanos, outras para portugueses e brasileiros, ou outras ainda para a comunidade internacional de estudiosos. Na maioria delas encontramos os mesmos factos, mas sintetizados e apresentados em perspectivas diferentes (até antagónicas), capitalizando sempre no interesse do leitor específico. Este processo de "packaging" sublinha ainda mais a natureza subjectiva da obra do historiador não só sobre o que escreve e como o escreve, como também para quem escreve. Assim, podemos constatar um processo simbiótico único na medida em que a história influencia a cultura, ao mesmo tempo que a cultura influencia a história.

Assim, em termos de "Histórias de Angola" encontramos ao longo dos tempos estudiosos de história que procuraram reunir nas suas "histórias" o que eles pensavam importante para o relato da História de Angola.

A primeira obra de vulto é decerto a "Relação do Reino do Congo e das Terras Circunvizinhas" de Duarte Lopez, descrita pela pena de Fillipo Pigafetta, publicada em Roma , em 1591. A "Relação" de Duarte Lopez, é de facto uma história dos Portugueses no Antigo Reino do Congo, acompanhada por uma boa descrição da geografia, animais, flora, economia, costumes, religião e política do mesmo. Naturalmente, a "Relação" de Duarte Lopez reflecte a compreensão da história do seu tempo, e em certa medida, o papel da Igreja Católica na missionização das novas terras descobertas. A "Relação" de Duarte Lopez e Fillipo Pigafetta foi escrita para os leitores europeus dessa époc,a ávidos de saber mais sobre os povos, a geografia, a fauna e flora da África Central.

A História do Reino do Congo, de autor ainda não reconhecido, provavelmente escrita em 1623, é mais um exemplo de outra descrição do Antigo Reino do Congo do que uma história do mesmo, e como tal, limita-se ao Congo e não inclui material que se refira a Angola.

A História Geral das Guerras Angolanas, publicada em Lisboa em 1680, da autoria de António de Oliveira Cadornega, capitão da conquista portuguesa, tendo vivido cerca de cinquenta anos em Angola, dos quais 28 anos em Massangano e 23 em Luanda. Esta foi a primeira história escrita em Angola por um residente angolano de longa data, assim reflectindo com maior extensão e detalhe a história dos povos da região e da conquista portuguesa. A obra de Cadornega difere das outras "Histórias de Angola" no sentido em que não enaltece tanto o cariz missionário da fé cristã. Ele escreeu a "História Geral das Guerras Angolanas" para um público mais largo, se bem que ainda restrito aos que em Portugal e Brasil se interessavam na vida e história da Angola desse tempo.

A Descrição Histórica dos Três Reinos Congo, Matamba e Angola , do Padre João António Cavazzi de Montecúccolo, publicada em italiano em 1687, também muito extensa e completa, tinha como audiência os estudiosos europeus e as ordens missionárias interessadas no trabalho de evangelização em África.

Por outro lado, a obra de E. G. Ravenstein, The Strange Adventures of Andrew Battell of Leigh, in Angola and the adjoining Regions, edited with Notes and a Concise History of Kongo and Angola, publicada em Londres em 1901, para além de uma crónica biográfica de Andrew Battel, que viveu na região por dezoito anos, contém informações valiosas de interesse para a História de Angola, Congo e outros potentados vizinhos. A obra de Ravenstein, aém de ser escrita em inglês, é definitivamente produzida para informar aqueles interessados na génese e expansão do Império Britânico acerca de uma região ao tempo um pouco desconhecida.

Já a obra a História de Angola, escrita por Elias Alexandre da Silva Corrêa, e publicada entre 1792-99, nascido no Rio de Janeiro e destacado para Angola em comissão de serviço militarde 1782 a 1789, é uma obra de história mais estruturada. A obra está dividida em duas partes. A primeira parte começa com um esboço geográfico, e descrição da estrutura política, administrativa, financeira, militar e religiosa da colónia, passando a uma descrição detalhada da sua economia. A segunda parte dedica-se à história dos portugueses em Angola propriamente dita, seguindo um percurso dos feitos de cada governador, desde Paulo Dias de Novais (o primeiro, de 1574 a 1589) até José de Almeida e Vasconcelos Soveral e Carvalho (1784-90).

O Catálogo dos Governadores do Reino de Angola compilado por por Fêo Cardozo em 1825 e publicado em Paris é mais uma cronologia da história dos Portugueses em Angola até aquele ano. O Catálogo dos Governadores inclui uma biografia do Vice-Almirante Luiz da Motta Fêo e Torres, e um precioso mapa da região preparado pelo Coronel Pinheiro Furtado.

Em 1846, José Joaquim Lopes de Lima publica em Lisboa o terceiro volume dos seus Ensaios Sobre a Estatística das Possessões Portuguezas (Angola e Benguella), considerado por muitos estudiosos como a obra mais completa sobre a colónia de Angola até aos princípios do Século XX. Lopes de Lima baseou a estrutura da sua obra na História de Angola de Elias Alexandre da Silva Corrêa, expandindo e melhorando em grande detalhe a informação sobre a vida da colónia nos últimos cinquenta anos.

A História do Congo, é uma compilação de 211 documentos originais importantes para o estudo da História de Angola, compilada pelo Visconde de Paiva Manso, e publicada postumamente em Lisboa em 1877.
 

História de Angola, Alberto de Lemos, 1929 (a desenvolver)

História de Angola, Francisco Castelbranco 1932 (a desenvolver)

Angola - Apontamentos Sobre a Ocupação e Início do Estabelecimento dos Portugueses no Congo, Angola e Benguela, Extraídos de Documentos Históricos, coligidos por Alfredo de Albuquerque Felner, Universidade de Coimbra, 1933

História de Angola, da autoria de Ralph Delgado, 1948 - 1955, 4 Volumes, edição do Banco de Angola, sem data (1969 - 74) é a obra mais detalhada sobre a história colonial dos portugueses em Angola até 1836. A obra de Ralph Delgado, reflectindo o tempo em que foi escrita, revela uma visão colonialista e não necessariamente angolana. Contudo, pelo seu contento e detalhe, é uma obra que merece ser estudada e "traduzida" em termos de conteúdo mais objectivo.
 
Estudos históricos e biografias de figuras históricas de Gastão de Sousa Dias
 
Estudos "antropológicos", arqueologia, e pesquisas etnológicas de Ferreira Diniz, Prof. Dr. Mendes Corrêa, Padre Carlos Estermann, Jorge Dias, José Redinha, Castro Soromenho, Henrique Galvão, Mário Milheiros, Vicente Martins, Mesquitela Lima, Lopes Cardoso, Eduardo dos Santos, e Carlos Ervedosa.
 
Estudos históricos e geográficos de Ilídio Amaral
 
Angolana - Documentação Histórica sobre Angola, de Mário António Fernandes de Oliveira é um repositório de muitos documentos históricos
 
História de Angola, Centro de Estudos Angolanos, MPLA, Argel, 1975 - Henrique Abranches, Artur Pestana (Pepetela), Adolfo Maria, e Tomás Medeiros

Estudos históricos de Jean Vansina, Gerald Bender, David Birmingham, Clarence Smith, René Pellessier, Anne Hinton, Douglas Wheeler, Laurence Henderson, Beatrix Heintz, Jill Dias, Joseph Miller, John Thornton, Linda Heywood,
 
Estudiosos brasileiros da História de Angola - Mariana Cândido, Roquinaldo Ferreira, e Selma Pantoja,

Estudos históricos de Aida Freudenthal e Maria da Conceição Neto
 
História de Angola, de Alberto de Oliveira Pinto
 
 
2. História e Propaganda

Cabe aqui fazer uma breve abordagem às relações entre a história, a ideologia e regimes políticos. Sabemos que todos os regimes políticos, especialmente os de natureza ditatorial, recorrem à história para confirmar a validade da sua razão de existência. É evidente que a História que usam não é uma história em que prima o rigor do método científico de investigação e comunicação, não é uma história de qualquer forma objectiva; é de facto uma história prostituída, que foi "revista" para distorcer os seus métodos de estudo e comunicação, de forma a resultar numa história que justifica o control do poder político, económico, moral e religioso do grupo que domina o poder político. Este processo de distorcer a história assenta essencialmente no papel da ideologia, que vai buscar à mitologia, à religião e à moral a razão de ser da história do regime e da sociedade por ele controlada. Assim, nestas situaçõe, a história deixou de ser ciência e passou a ser instrumento de propaganda de regimes políticos.

Infelizmente, este rapto da história é muito mais comum (endémico, diria) do que desejamos, pois de uma forma ou outra, a máquina de propaganda de ditaduras tem sempre na história distorcida o seu maior tesouro. Não temos que ir muito longe para encontrar exemplos tristes, entre os quais ressalta a máquina de propaganda nazista, que em alterando a base histórica dos povos que haviam mais tarde de fazer a Alemanha, foram encontrar e justificar o racismo que resultou na extreminação de seis milhões de pessoas de origem judaica na Europa.

Como outro exemplo, podemos citar a história da ocupação europeia da América do Norte, e o seu impacto nas populações nativas, em que a distorção causada pelos filmes de "Cowboys e Índios", é tão funda, que é ainda com certa resistência e dificuldade que se aceita a perspectiva nativa deste encontro.

No caso específico dos povos e dos jovens estados africanos , esta prostituição da história pode muito fácil e rapidamente assumir consequências muito trágicas. Servindo-se do tribalismo como instrumento de "razão de ser" (identidade) de um povo, torna-se fácil explorar diferenças e até justificar genocídios, como foi o exemplo trágico do Ruanda em 1994, e, mais perto de nós, até a guerra fraticida que durante 27 anos persistiu na destruição implacável e total de Angola.


3. Separar o Trigo do Joio

Asim, como leitores e estudiosos de história temos sempre que discernir o trigo do joio, de identificar e separar a história com base científica da história prostituída por regimes ditatoriais, pois sabemos que certas "histórias" não são de facto o registo do passado, mas sim instrumentos de control económico, político, religioso e até moral de uma classe dominante sobre um ou mais povos oprimidos.

Na comunicação do resultado dos seus estudos, o estudioso de história capitula ao rigor do método histórico, e acaba por ter sempre em atenção quem vai ler o que escreveu, escrevendo assim para quem o vai ler. Esta vertente de "marketing" de história não é ciência, e como tal, temos sempre que compreender com precaução a "história" que lemos ou estudamos.


4. História e Audiências

Apesar da frequência dos problemas cobertos acima, temos ainda que ter em atenção, que mesmo fiel a princípios científicos, e por razões completamente legítimas, o comunicador de história tem sempre que "package" a sua mensagem, seja através de um livro sobre história para crianças, de uma obra de divulgação de conhecimento, de um artigo numa enciclopédia popular ou mais erudita, de um artigo num jornal de fim-de-semana, ou de um artigo numa revista para profissionais de história, de um programa na televisão, ou mesmo de um filme.

Em todos estes níveis de detalhe e órgãos de comunicação (media), os factos podem ser os mesmos, mas são relatados ao leitor de forma especial em cada um. Assim, audiências diferentes requerem métodos e níveis de apresentação diferentes.


5. Afinal, Para Quem é Esta Viagem Pela História de Angola?

Assim, amigo leitor e companheiro de viagem, é legítima a tua pergunta: "Afinal, para quem escreves esta Viagem Pela História de Angola"?, ao que me cumpre responder: "Para o público em geral, especialmente o angolano e o português, ainda para os angolanos na diáspora, também para os estudantes (e não para os estudiosos da História de Angola, pois eles requerem notas de pé ao fundo da página para completar o texto), e para todos aqueles que como eu gostam de ler tópicos relacionados com a História de Angola".
 
Esta Viagem é simplesmente um trabalho de divulgação de História de Angola.
 

4.6 Que Historiador?

Heródoto (484 AC - 425/413 AC), pensador grego, por muitos considerado "o Pai da História"


 

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Reconheço como historiador aquele que estuda a história de um mais grupos humanos de maneira científica, e que a comunica de uma forma objectiva a uma audiência interessada. Porém, ao estudar e comunicar história, o historiador corre sempre o risco inerente de a comprometer ou distorcer, porque o historiador ao analizar uma realidade objectiva (o facto histórico, por exemplo), vê-a sempre numa perspectiva subjectiva; a sua perspectiva pessoal, ou da classe social ou política a que pertence ao tempo que a escreve.

A subjectividade do historiador não só resulta numa interpretação e narração diferentes do mesmo facto histórico, como também condiciona o processo de pesquisa histórica usado no estudo do mesmo facto. Assim, a aplicação de diferente teorias da história requer métodos de estudo e pesquisa diferentes. Deste modo, a História de Angola estudada por historiadores angolanos de orientação marxista, da Escola dos Annales Anais Económicos e Sociais, ou da escola cíclica de Arnold Toynbee, vai necessariamente resultar em produtos claramente diferentes, todos eles estudando o mesmo objecto, mas estudando-o e relatando-o em perspectivas claramente diferentes.

Assim, quando ainda aluno jovem dos liceus Paulo Dias de Novais e Salvador Correia em Luanda ainda no período colonial, lembro-me bem que o pouco de história de Angola que nos era ensinado, era somente a história dos feitos ilustres dos heróis portugueses em Angola. Nada nos era ensinado, por exemplo, acerca da escravatura ou do tráfico de escravos (o único escravo que ouvi falar foi o escravo Jau citado nos "Lusíadas" de Luis de Camões, ou do escravo Henrique de Fernão de Magalhães...), ou da resistência africana às campanhas militares de ocupação. 

A história que aprendíamos era a história escrita e narrada pelo vencedor (que mais tarde viria pessoalmente a testemunhar a sua derrocada), e não a história dos vencidos ou dos alienados, nem mesmo sequer a história das relações entre vencedores e vencidos.

Do mesmo modo, estudando a literatura da História de Angola do período pós-Independência, deparamos um pouco com a mesma questão, sómente invertida desta vez, em que a objectividade do investigador da História de Angola volta outra vez a sacrificar a sua objectividade à glória breve da popularidade imediata.

Trago isto apenas a discussão aqui, pois quero apenas dizer que a História de Angola que vai ler é necessariamente subjectiva, apesar de eu tentar o meu melhor em a expôr numa forma neutral e objectiva. Evitei juízos de valor, enalteci certos factos, relações e figuras, e ocultei outros, ou mostrei-os numa forma mais opaca, de acordo com a minha interpretação pessoal e portanto subjectiva da sua importância.

Enfim, apesar de não me considerar colono ou crioulo, sou o produto de uma sociedade compósita, de uma escola dualista, e de uma vivência colonial e crioula; sou apenas o que sou, mas também vou sendo o que quero ser. E, por essa mesma razão, como leitor, talvez não concordes comigo sempre... Mas a História é assim.

4.4 Breve História da História


 

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1. Mitologia, Literatura e História

Por muito tempo, a história dos povos era vista como fazendo parte inicialmente da mitologia e mais tarde da literatura épica, como um somatório de estórias baseadas em factos que realmente aconteceram e de herois que de facto existiram, mas que tinham sido ficcionalizados pela imaginação dos escritores e dos povos e apresentados em forma de epopeia.

Contudo, com advento do método científico iniciado na época do Renascimento Europeu, a história ganhou independência e estatuto próprio, como um ramo cientifico de conhecimento preocupado com a verificação e verdade dos factos históricos.

Até aos princípios do Séc. XIX, o objecto da história universal limitava-se ao estudo da Antiguidade Clássica (Grécia Antiga e Império Romano), Idade Média da Europa, Época do Renascimento e dos Descobrimentos, e Época Moderna numa perspectiva estritamente europeia, pois a referência a civilizações com quem os europeus entraram em contacto se limitava a factos históricos nos quais quais os povos europeus eram protagonistas.

2. África e História

Assim neste contexto, a história de África, por exemplo, era mais a história dos europeus em África do que a história dos povos africanos, e somente com referências marginais a estes. Embora o estudo da história da civilização muçulmana tivesse tradições muito antigas e ricas em África, tivesse um corpo de conhecimento bem estruturado e fosse mais completa nas sociedades árabes, esta não fazia parte ainda do corpo tradicional da disciplina de história universal, o mesmo acontecendo com a histórias milenares das civilizações do Levante, da Índia, do Sul da Ásia, e do Extremo Oriente.

Entretanto, a África a Sul do Sahara e a sua História continuaram, ao longo de milénios, envoltas numa núvem de mistério, que só começou a levantar-se com os Descobrimentos Portugueses, no Séc. XV, e de forma mais acelerada com o estabelecimento de colónias de captação de escravos no século seguinte. A ideia que os Europeus tinham de África é que era uma terra habitada não só por negros, mas por monstros (animais e humanos) fantasmagóricos que desafiavam a curiosidade racionalidade daqueles que se interessavam pelo seu estudo. O historiADOR Heródoto que viveu na Grécia Antiga (de 484 AC a 425 AC), e para muitos considerado com o "Pai da História" durante mais de um milénio, escreveu nas suas "Histórias" acerca dos Africanos que "os homens daquelas regiões são negros por causa do calor", e os "Etíopes da Líbia são entre todos os homens com os cabelos mais crespos", acrescentando ainda que "o sémen por eles ejaculado quando se unem às mulheres também não é branco... e sim negro como a sua tez (acontece o mesmo com o sémen dos Etíopes)". Para cimentar a ideia de que a África era uma parte diferente e remota do mundo de então, Heródoto escreveu ainda que "a Etiópia era a mais remota das regiões habitadas; lá existe muito ouro e há enormes elefantes, e todas as árvores são silvestres". O mito do Cabo Bojador e de que as águas do Mar Oceano se tornavam cada vez mais quentes à medida que se navegava para Sul, até ao ponto de se igualalem às chamas do inferno, foram para os primevos navegadores Portugueses uma barreira mental que atrasou um pouco o passo da descoberta do mundo. Estes são exemplos do ideário que se tinha da África a Sul do Sahara e dos seus povos, ideário que através de muitas formas se manteve em formas diferentes até aos nossos dias.

A primeira expansão no campo da história aconteceu nos princípios do Séc. XIX, quando o interesse sobre o estudo do Egipto Antigo (como resultado da campanha de Napoleão no Egipto) demonstrou que outras sociedades muito antigas tinham deixado um registo precioso e inegável da sua história, que se podiam estudar devidamente com o advento de grande progresso nos métodos de arqueologia.

3. História e Cultura Ocidental Judeo-Cristã

Contudo, apesar da crescente importância da história das civilizações do Levante, o monopólio da história judeu-cristã ocidental continuou a dominar o objecto da história até aos princípios do Séc. XX, quando passaram a incorporar o domínio da história universal o estudo e conhecimento do passado das civilizações muçulmanas e industânicas, e das civilizações chinesa, japonesa e coreana.

Até esta altura pouco se sabia sobre a história dos povos da Ásia Central e dos povos que habitaram a Índia, a Indochina e a Insulíndia. No hemisfério americano, por seu lado, assistia-se ao despertar do interesse pelas civilizações meso-americanas e andinas pré-colombianas, que sómente depois de algumas dificuldades passaram a ser reconhecidas e a incorporar os tratados de história universal.

3.1 Visão Eurocêntrica

Esta "resistência" eurocêntrica ampliou-se e aprofundou-se ainda mais devido em parte à falta de documentos escritos como únicas fontes válidas de história, e ao cepticismo académico europeu, que não viam a história oral como fonte genuína de conhecimento histórico. Esta posição eurocêntrica de que os povos indígenas de outras regiões do globo não tinham história manteve-se como pensamento corrente e premissa de investigação até aos meados do Séc. XX.

A reforçar a esta resistência eurocêntrica, temos ainda o facto de que as correntes da filosofia da história dos princípios e meados do Século XIX, defendida por pensadores como G. W. Hegel e Karl Marx, viam os povos não-europeus como irrelevantes ou secundários no processo histórico, já que os povos europeus eram tidos como os ponta de lança (leading edge) da humanidade e do progresso humano, e, para eles, o que importava era explicar a história universal (de toda a humanidade), não a local ou a referente a um período histórico, e muito menos estudar a história de povos e épocas que nem sequer era documentada.

O avanço tecnológico e cultural ocidental (europeu e americano) via assim as sociedades nativas e tradicionais, como grupos humanos que estavam ainda numa fase embrionária (infantil para alguns historiadores), e portanto sem história, tão bem caracterizados pelo mito do "Bom Selvagem" de Jean-Jacques Rousseau.

3.2 A Negação da História dos Povos Indígenas

Esta "negação" da história dos povos indígenas por parte dos historiadores ocidentais atingiu extremismo absurdo quando os arqueólogos europeus e americanos descobriram os grandes complexos de ruínas de sociedades antigas, como as ruínas das igrejas cópticas na Etiópia, do complexo de defesa do Zimbabwe na África Oriental, de Ang Kor Vat na Indochina, e de Teotihuacan no vale do México, e lhes atribuíram a alguns a sua génese a civilizações não nativas de origem caucasóide (para uns talvez cristã, como o Rei Salomão, a Raínha do Sabá, ou hamitas como sobreviventes da arca de Noé), que se tinham há muito estabelecido e mais tarde desaparecido na bruma do tempo, mas que eram efectivamente rejeitadas como se fosse obra possível de povos indígenas africanos, asiáticos ou meso-americanos colonizados.

4. História com Ciência Social

À medida que o método e o corpo da história se foi desenvolvendo e aperfeiçoando, e que o recurso a outras ciências sociais e a ciências auxiliares da história se tornaram rotina, em breve se tornou por demais evidente à comunidade mundial de historiadores que os povos indígenas tinham efectivamente uma história muito antiga e muito rica, e que o seu estudo requeria apenas novos métodos mais específicos e completos de investigação histórica e social. Contudo, esta admissão por parte da comunidade de historiadores académicos europeus e americanos não foi aceite prontamente sem um certo grau de resistência. Como exemplo, cito outra vez a resistência ao papel da história oral no conhecimento e compreensão da história dos povos não-europeus a quem a escrita não havia ainda chegado.

Hoje, volvido que é mais de meio século, o conhecimento e estudo da história cobre todas as civilizações e povos que tenham existido em qualquer parte do mundo em todos os períodos até ao tempo presente, é verdadeiramente pujante completando dia-a-dia este imenso puzzle que é o passado da espécie humana.

5. O Futuro da História

Com os avanços registados nos métodos de investigação histórica e social, e na partilha da experiência de pesquisa história à escalas individual, local, regional e global, a história não tem afinal um fim, sendo apenas um princípio para melhor compreensão entre os povos; a história tem assim um futuro brilhante e imensamente rico para a humanidade; contudo, cabe-nos ainda dizer, o melhor da história ainda está para vir.

4.14 O Materialismo Histórico

 

O historiador, filósofo, e economista alemão Karl Marx (1818-83) foi quem primeiro avançou a teoria do materialismo dialéctico como explicação da evolução histórica da humanidade

 

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Amigo Leitor: Este capítulo ainda está em desenvolvimento. Espero tê-lo pronto para publicação dentro de algum tempo. Até lá, aprecio a tua paciência e apelo à tua compreensão.




Apesar da sua análise se ter cingido mais ao percurso histórico da civilização ocidental (judeo-cristã) e partilhar do eurocentrismo reinante na sua época, acho pertinente cobrir algumas noções fundamentais da interpretação materialista da história desenvolvidas por Karl Marx, pois penso que nos vai ajudar um pouco a melhor compreender o estudo da história.

Marx tinha um certo desdém dos filósofos, pois nas sua XI Tese Sobre Feuerbach, afirmou que "os filósofos não têm feito mais do que interpretar o mundo de diferentes maneiras, mas o que importa é transformá-lo". Ele acreditava que o debate de ideias entre filósofos era essencialmente estéril e o que era importante era a militância dos trabalhadores na destruição imediata do sistema capitalista e a sua substituição pela ditadura do proletariado como única via para uma sociedade sem classes.

De acordo com a interpretação marxista da história, qualquer povo para existir como tal, requer a interacção de três elementos fundamentais:
- O território, constituído pelo meio físico, que inclui a terra, a água e outros recursos naturais, e o ambiente natural, incluindo animais e plantas;
- O grupo humano que constitui a sociedade, que vive do trabalho da transformação dos recursos naturais em produtos consumidos pela sociedade; e,
- A consciência dos indivíduos dos grupos (classes) que constituem uma sociedade comum e distinta em que partilham certas regras, objectivos e relações comuns.

De acordo com a interpretação materialista da história, a estrutura das sociedades humanas é ditada pela economia política, e a história não é senão o registo e a explicação das formas de organização social que ocorreram ao longo da evolução dessas sociedades. Evolução essa independente da vontade do homem, condicionada pelo modo de produção peculiar a cada estágio de desenvolvimento social. Neste contexto a economia política é o processo social pela qual o homem satisfaz as suas necessidades materiais, e o modo de produção é a totalidade social, ou o conjunto das estruturas económicas, políticas, jurídicas e ideológicas que definem uma determinada sociedade num determinado ponto da sua evolução histórica.

Marx identificou cinco estágios de evolução histórica da humanidade, cada qual com modo de produção próprio, a saber: O comunismo primitivo, o esclavagismo, o feudalismo, o capitalismo, e o socialismo.

Cada modo de produção (modo de organização económica e social) contém em si o germe de mudança (a luta de classes - o conflito entre as forças produtivas e as relações de produção) para a futura sociedade que a vai substituir, gerando assim contradições que dão origem a novas formas mais complexas de organização económica e social. A divisão do trabalho criou um sistema de relações permanentes entre os membros da sociedade. A luta de classes nasce da exploração do homem pelo homem, resultante da divisão social do trabalho e da acumulação do capital nas mãos de uma classe dominante a custo das classes subjugadas. A luta de classes resulta assim da contradiçaõ entre as forças produtivas (os agentes económicos de produção: trabalhadores, edifícios e equipamento, tecnologia, etc.) e as relações de produção (os sistemas político e jurídico de protecção à propriedade privada dos meios de produção).

O conceito de modo de produção constitui assim a chave da interpretação materialista da história, e de acordo com ela, a vida material (economia política) é o factor determinante na história. No plano político, Marx via o Estado (com os seus aparelhos militar e jurídico) como um agente da classe dominante, pois para ele a principal função do Estado era a protecção dos interesses da classe dominante e da propriedade privada dos meios de produção também nas mãos da classe dominante, e não o bem comum da sociedade. De acordo com o Manifesto Comunista publicado por Marx e Engels em 1848, "a história de todas as sociedades humanas, do passado e do presente, é a história das lutas de classes. Livres e escravos, patrícios e plebeus, barões e servos, mestres das guildas e artesãos, numa palavra, de opressores e oprimidos, mantiveram sempre em aberta e recíproca oposição. E travaram uma guerra perpétua, às vezes mascarada, outras vezes aberta; uma guerra que terminou invarialvelmente numa revolução que transformou toda a estrutura social, ou na ruína de ambas classes contentoras."

Embora a análise histórica de Marx se tivesse baseado na experiência específica dos povos da Europa e Médio Oriente (civilização judeu-cristã), as suas conclusões, com certa adaptação a situações históricas concretas, são hoje aceites para a maioria das sociedades em geral, e o seu enfoque em fases adoptado para o curso geral da evolução humana. De acordo com o enfoque faseológico de Marx, as sociedades humanas em geral progrediram de acordo com a seguinte linha geral:

O Comunismo Primitivo

O comunismo primitivo era característico das sociedades nómadas pré-neolíticas em que a agricultura ainda não era praticada e a propriedade da terra era comunitária. A organização social do bando era rudimentar, baseado na divisão social do trabalho entre o homem, a mulher, o velho e a criança. A divisão social do trabalho era assim mínima nas sociedades primitivas , resultando numa sociedade nómada de colectores, relativamente equalitária e sem classes sociais em que a propriedade da terra era comunal e onde não existia um aparelho de estado organizado. Os chefes dos bandos eram geralmente escolhidos pelo grupo e era ajudados por conselhos de anciãos. Os atributos de chefia não era permanentes (só muito raramente vitalícios) e eram baseados na perícia da caça ou nas qualidades de comando militares de defesa e ataque a outros grupos.

Neste primeiro estágio de evolução social, os meios de subsistência eram caracterizados pela colheita de frutos naturais, caça, pesca e pastorícia, somente para consumo individual e familiar, e encontramos já a domesticação de alguns animais de pequeno porte; numa palavra, o que a natureza pródiga apresentava espontaneamente à mera captação do homem. Na economia das sociedades primitivas não encontramos um excedente económico, já que tudo o que obtia da natureza era para consumo imediato, e o modo de vida nómada não se prestava aos grupos carregarem consigo, de lugar para lugar, qualquer carga. A este modo de produção, Marx chamou-o de Comunismo Primitivo.


O Esclavagismo

Na segunda fase, com o advento da agricultura e do uso do ferro e outros metais os grupos humanos tornaram-sa mais sedentários em pequenas povoações e cidades e tornou-se possível a produção de um excedente económico que era usado pelo chefe do bando ou da tribo e sua família. Como resultado de guerras com tribos vizinhas, as tribos passaram a ter uma organização militar mais formal, em que o chefe passou a ter um papel preponderante, e onde se já notava uma divisão social do trabalho, que resultou numa classe dominante (de exploradores) e uma dominada (de explorados). Ao mesmo tempo as guerras com as tribos vizinhas geravam escravos que eram usados como soldados ou como instrumentos de trabalho tanto na agricultura, como na produção de ferramentas, ou ainda como trabalhadores domésticos, o que deu origem a uma divisão social do trabalho mais evidente e profunda. O trabalho escravo era a base do sistema económico e a classe dominante era a proprietária da maioria dos escravos. O excedente (ou mais valia) do trabalho escravo era consumido pela classe dominante ou servia de produto de troca com outras comunidades, o que deu origem a um comércio mais activo. A mais-valia gerada pelo trabalho escravo e o lucro resultante do comércio com outras povoações e cidades eram aplicados na consolidação do aparelho do estado e no comando da economia pela classe dominante. A esta fase em que o uso do trabalho escravo era o aspecto fundamental do modo de produção, em que havia a apropriação privada do factor humano (o escravo como propriedade privada do senhor) Marx chamou-a de esclavagismo. O esclavagismo foi o modo de produção predominante no Antigo Egipto, na Grécia Antiga e no Império Romano, da civilização chinesa, e das civilizações pré-colombianas andinas e meso-americanas.

O Feudalismo

Na terceira fase, o esforço humano junta a estes meios a agricultura, resultando assim numa vasta expansão das formas económicas de produção, mas sem abandonar por isso os rebanhos, a caça, a pesca, e a recolha de frutos silvestres.

O Capitalismo

Fase do Capitalismo Mercantilista

Fase do Capitalismo Imperialista

O Socialismo

O estágio final do Comunismo

4.13 Filosofia e Teorias da História

 

Giambattista Vico (1688-1744), filósofo italiano pioneiro de uma teoria cíclica da história

 

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Como actividade de conhecimento humano, a história existe desde o tempo em que os primeiros homens se organizaram em grupos sociais estruturados (sociedades). Como disciplina e processo de conhecimento do passado, a história tem uma tradição rica que desde cedo estabeleceu raízes profundas em várias civilizações.

Contudo, foi durante os últimos seis séculos que a história se emancipou como disciplina, mais propriamente desde o Renascimento Europeu, pois até aí, a história era tida como uma parte da literatura ou da mitologia. Como ciência, a história é uma disciplina ainda mais jovem, pois só nos finais do Séc. XIX, é que a história se organizou como campo independente de pesquisa e conhecimento. Foi nas universidades europeias que a história se desenvolveu mais e se identificou como ramo de conhecimento próprio, e se formaram as primeiras correntes gerais de pensamento histórico. Desde então muitos pensadores e historiadores ampliaram e aprofundaram o campo de conhecimento da história.


Filosofia da História

Alguns pensadores na Antiguidade Clássica (Grécia e Roma antigas) observaram que existia uma certa repetitição cíclica na sequênca da história da humanidade através de guerras, desastres, destruição de cidades, ascensão e quedas de impérios e civilizações, que desde tempo imemorial flagelavam a humanidade. Ao estudar e escrever história, os mesmos pensadores indagaram também a razão de ser (a finalidade, o fim) da história como área do conhecimento humano, e os métodos diferentes de se conhecer a história e transmiti-la a gerações vindouras.

Contudo, só em 411 em Cartago, é que o filósofo Santo Agostinho, na sua obra "Cidade de Deus" perguntou se havia algum sentido na evolução histórica da humanidade, se havia um sentido na história, ou se a história tinha um fim. Santo Agostinho concluiu que sim e encontrou a resposta a esta importante pergunta na vontade de Deus. Esta reflexão de Santo Agostinho sobre a natureza da história foi o primeiro passo no longo debate da Filosofia da História.

A solução teológica (divina) de Santo Agostinho da filosofia da história perdurou até aos finais do Séc. XVIII, quando o filósofo alemão Immanuel Kant abriu de novo o debate e avançou a ideia em 1784 de que havia uma lógica na história, e que para encontrar essa lógica teríamos de abarcar toda a humanidade (passada e presente) através da história universal.

A questão levantada por Immanuel Kant foi retomada em 1830 pelo filósofo alemão G.F. Hegel, publicada na sua obra póstuma História Filosófica da Humanidade publicada em 1837, que concluiu que a razão (ideia, pensamento) era o motor da história. Hegel acreditava que havia um progresso geral da humanidade desde os tempos da barbárie, passando pela Idade Média, Renascimento e Iluminismo, e que a razão (ideia, pensamento) era o agente motor dessa evolução secular da humanidade.

Para Hegel apenas podemos conhecer a actividade humana somente através da sua história; assim a filosofia não é senão a história da filosofia. Hegel adiantou ainda que para um indivíduo ser o que é e podermos conhecê-lo propriamente, temos de integrar esse indivíduo numa sociedade, e para compreendermos essa sociedade, temos que estudar a sua história e as forças que a moldaram; e concluiu ainda que o "Espírito da Idade (Época)" (Zeitgeist) é a incorporação concreta dos factores mais importantes que actuam na história humana a qualquer ponto do seu continuum histórico. De acordo com a interpretação historicista da história, cada época tem o seu sistema de conhecimento específico. A este enfoque histórico da actividade humana dá-se o nome de historicismo.

A concepção idealista da história de Hegel foi rebatida por Karl Marx e Frederic Engels, que embora baseados na dialética idealista de Hegel, a inverteram e adaptaram ao conceito materialista da história, em que a luta de classes era o motor da história, pois defenderam que as ideias eram o resultado das relações de produção, e não estas o resultado das ideias.

 

Teorias da História

Quando pensamos em história, como experiência humana do passado, é natural indagar se com o que aprendemos sobre o passado nos permite encontrar e reconhecer certos padrões na estrutura do desenvolvimento das sociedades do passado, e se munidos desse conhecimento do processo histórico das sociedades passadas, podemos enunciar certas leis mais gerais que não se aplicam somente à história de outras sociedades mas também à evolução geral da espécie humana; e para além disso, como nos podem ajudar também a discernir se o futuro da humanidade é fruto do acaso ou se é predeterminado.

A estas perguntas os estudiosos de história avançaram um número de explicações que refinaram em "teorias da história" em que procuraram explicar o desenvolvimento histórico da espécie humana. Essas teorias procuram não só explicar o que aconteceu, mas também porque é que aconteceu, e, mais ainda, dizer o que vai acontecer no fim da história.

Com base nas suas teorias da história certos pensadores preconizam que existe um determinismo no percurso da história da humanidade, independente da vontade dos homens, e que com base daquilo que conhecemos do passado nos permite compreender o futuro. Contudo, outros pensadores concluíram que tal determinismo é impossível de realizar, pois a liberdade do homem nega qualquer possibilidade de certeza para além do momento presente.

As teorias da história são achegas para explicar a história, isto é, a evolução da espécie humana. Elas estabelecem relações entre certos factos de acordo com certas leis (princípios de cada teoria da história), de modo a resultar numa explicação racional e coerente do passado e da previsão do futuro. Neste processo o historiador escolhe os factos históricos relevantes e omite aqueles que não contribuem para a explicação de acordo com a teoria da história que professa. De um modo geral, as teorias da história podem resumir-se nas seguintes correntes de pensamento histórico:

1 - A Teoria dos Ciclos Históricos - De acordo com as teorias cíclicas da história o progresso das sociedades humanas desenvolve-se de acordo com grandes ciclos que se repetem ao longo dos tempos, independentemente da vontade dos homens. A explicação cíclica da história teve origem nos pensadores da Grécia Antiga, dos quais Heródoto (o Pai da História, 484-424 AC) e Tucídedes (460-404 AC) são os expoentes mais conhecidos.

Mais tarde, já na Idade Média, Petrarca (1304-1374), retomou a teoria dos ciclos e acrescentou que a história não era o resultado da vontade de Deus, mas sim o resultado da acção humana. Pouco mais tarde, Maquiavel (1469-1527) confirmou que a história evoluía de acordo com ciclos, mas acrescentou que esses ciclos eram o resultado da estrategia política dos governantes.

Giambattista Vico (1668-1744) na sua obra "Ciência Nova", publicada em 1725, foi o primeiro pensador da história a propôr uma teoria cíclica da história em que as cidades humanas passavam invetavelmente por certas fases distintas de desenvolvimento ao longo dos tempos. Já mais recentemente, Oswald Spengler (1880-1936) e Arnold Toynbee (1884-1975) também sugeriram que a história humana se desenrola em ciclos, pois encontramos sempre a evidência deste princípio nas inúmeras civilizações cuja ascenção e queda, evoluindo sempre mais altos que os anteriores, são a confirmação da evolução cíclica da espécie humana.

2 - As Teorias Lineares de História - A concepção linear da história baseia-se no princípio de que a espécie humana se desenvolve ao longo de uma linha secular de evolução até atingir um certo estágio ou ponto final. Santo Agostinho (350-430) foi quem primeiro avançou esta interpretação, quando afirmou que a evolução das sociedades humanas é a manifestção do plano de Deus, e que com o processo de evolução, a história culminaria no Juízo Final. Voltaire (1694-1778) retomou a tese augustina mas despiu-a de influências divinas, afirmando que a evolução humana se desenrolava em vários estágios de conhecimento, culminando o último com o conhecimento científico característico do Iluminismo de Isaac Newton (1642-1727).

A explicação linear da história foi retomada por Karl Marx (1818-1883) que propôs que a evolução geral da humanidade se desenrolou ao longo de uma linha geral de luta de classes que havia de culminar inevitavelmente na ditadura da classe trabalhadora, num estágio histórico de comunismo puro, concluindo também que a história não é senão a história dessas lutas de classes, dentro dos paramatros do determinismo histórico.

Já no limiar do Séc. XX, H.G. Wells (1866-1946) notou também que a progressão geral da humanidade se realizava ao longo de uma linha geral, afirmando que a história não era senão que uma corrida entre educação (como processo crescente de aperfeiçoamento de ideias) e desastre (entre o saber e a ignorância, entre o conhecimento e o caos), resultando num cataclismo geral ou num estado mundial.

3 - A Teoria dos Feitos das Grandes Personalidades Históricas - Esta teoria sugere que o curso geral da humanidade é o resultado da acção de grandes figuras históricas (chefes militares, grandes estadistas, líderes de grandes religiões mundiais, ou mesmo grandes pensadores) que moldaram a história dos povos ao longo dos tempos, e que a história não é senao o registo dos feitos desses grandes homens. Thomas Carlyle (1795-1881) foi quem primeiro avançou esta explicação da evolução humana.

4 - As Teorias da Vida Quotidiana - A visão quotidiana ou a visão da vida material baseia-se na permissa de que a história é o registo colectivo da experiência do homem no seu viver quotidiano. Sir Walter Scott (1771-1832) foi quem primeiro avançou esta explicação, que haveria de ser mais tarde refinada por William E. B. Dubois (1868-1963), quando este pensador rejeitou a noção de que a história se limitava aos registos dos acontecimentos históricos da civilização ocidental, e expandiu o mesmo conceito à vida quotidiana de todos os outros povos e civilizações.

Fernand Braudel e os "Annales Economiques et Sociales"

5 - A Teoria das Ideias - De acordo com a teoria das ideias da história, as ideias são a fonte principal da evolução dos povos. As condições que criam ahistória são sempre criadas ou modificadas pelas ideias. G.W. Hegel (1770-1831) foi quem primeiro desenvolveu esta explicação da história, quando afirmou que a história não é senão que o refinar contínuo da compreensão intelectual humana. A teoria das ideias de Hegel pode também ser considerada como um teoria linear da história, já que Hegel descreveu a história como o desenrolar da vontade divina ao longo dos tempos.

6 - A Teoria do Materialismo Histórico - A Economia Política como explicação da história - As teorias económicas da história vêm a economia política como o factor mais importante na determinação histórica. De acordo com esta visão, a produção, distribuição e troca de bens e serviços são abase das estruturas sociais de todas as sociedades. Karl Marx foi quem primeiro formulou a escola de pensamento do materialismo histórico, tomando o conceito de dialéctica hegeliana e, "virando-o ao contrário", o aplicou à situação concreta da história dos povos, afirmando que não eram as ideias que criavam as condições materiais, mas que de facto, eram as condições materiais que geravam as ideias. De acordo com o materialismo histórico, a história não é mais que o estudo das relações entre as forças produtivas (o homem, a natureza e as técnicas) e as formas de propriedade das diversas sociedades humanas ao longo dos tempos.

7 - Outras Teorias da História - Além das teorias da história enunciadas acima, outras teorias procuram explicar a história com base noutras razões. Alguns pensadores avançaram a explicação de que a história das sociedades humanas é condicionada por factores geográficos, ao passo que outros vêm as guerras como os grandes determinantes da história; Outros ainda sugerem que a religião, raça ou ainda o clima determinam o curso da história; Outros ainda explicam a história como o resultado simples do caos e do acaso, como Friedrich Nietzche (1844-1900), que sugeriu que a história não tem princípio nem fim, e que pode apenas ser compreendida atraves do poder da razão.

De particular importância para a história de África é o historicismo antropológico desenvolvido por Franz Boas, pelo qual houve vários "berços de civilização" que se expandiram em forma de círculos e se adaptaram ao conjunto de circunstâncias em que viveram.